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McCoy Tyner, sempre um espetáculo |
Não basta nestes tempos ser apenas um escritor cuidadoso, versátil, imaginoso, ele tem de ser mais, e suas narrativas têm de se sincronizar com os temas pulsantes destes tempos. Parece um círculo vicioso sem graça, mas é isso, você começa a escrever, avança e não pode esquecer-se dos assuntos que mobilizam no presente momento, LGBTQIAPN+, o autoritarismo político (decorrente da ascensão de Trump e do filme brasileiro Ainda Estou Aqui); dos grupos marginais da sociedade; dos povos originários aos precarizados das margens urbanas, ou a violência de gênero. Há um chamariz encantado nesses temas que promovem uma atenção sempre especial,
Não basta escrever sobre a memória social, em seus pequenos desdobramentos cotidianos, ou sobre a velhice e seus limites. Sobre a morte e outras surpresas, por exemplo, como escreveu Benedetti. Adquiri há pouco, aqui na livraria do cine Petrobras o livro finalista do Prêmio São Paulo, No Muro da Nossa Casa, um pequeno romance de Ana Kiffer, além de escritora, professora de literatura na PUC-Rio. Quero ler, claro que o tema me agrada, mas também quero espreitar os caminhos que a conduziu para que este livrinho de menos de cem páginas ganhasse destaque, dentre certamente as centenas de outros que concorreram.
Talvez seja um bom
sinal ter a quarta capa e a orelha escritos por escritor e político conhecidos
e respeitados. Talvez. Há uma sistemática semântica (atravessou-me por um instante, que exagero, o termo cunhado por minha amada M. em outra circunstância, a mesmice discursiva) aqui presente que se
destaca, e isso é importante conhecer. No mais, o tratamento visual do livro é discreto,
assim como a editora, uma pequena casa do Rio. Já não é mais assunto uma
narrativa do tipo on the road, à maneira de Kerouak, pé na estrada, um
tema que pode ter fascinado, por sua originalidade, nos anos 1950. Comprei ontem,
também quero ler logo, mas à despeito de sua força e atração, não teria muito
apelo editorial nos dias de hoje.
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