Se devo morrer
Se devo morrer,
você deve viver
para contar minha história
vender minhas coisas
comprar um pedaço de tecido
e uma corda,
(que seja branco com cauda negra)
para que uma criança, em algum lugar de Gaza,
enquanto olhe o céu nos olhos
esperando a seu pai que se foi em um resplendor -
e não se despediu de ninguém,
nem mesmo de sua carne,
nem de si mesmo -
veja o barrilzinho, meu barrilzinho que fizestes, voando alto
e pense por um momento que ali há um anjo
trazendo de volta o amor.
Se devo morrer
que traga esperança
que seja um conto.
(Rafaat Alareer, 1979 - assassinado em 06.12.2023)
Entre estrangeiros
(Gaza, 1951)
fragmentos
Pai!
Por favor, por Deus, diga-me
Iremos algum dia a Jaffa?
Sua preciosa imagem
segue flutuando diante de meus olhos.
Regressaremos a ela algum dia com orgulho,
apesar desses tempos, com dignidade?
Diga-me, entrarei em minha casa?
Entrarei nela com meus sonhos?
E a encontrarei, e ela me encontrará?
Ouvirá meus passos?
Entrarei através deste coração
tão nostálgico, tão sedento?
Pai,
se tivesse, como os pássaros
asas para levar-me,
haveria voado com um desejo despreocupado
pela saudade de meu país.
Mas sou da terra;
a terra continua atando-me.
Vamos recuperá-lo,
retomemos este país
nunca aceitaremos um substituto,
nunca aceitaremos um preço por ele!
Nenhuma fome nos matará,
nenhuma pobreza nos esmagará,
a esperança prevalecerá
cada vez que a vingança convoque.
Paciência, filha minha, paciência.
Amanhã, a vitória estará de nosso lado.
(Harun Hashim Rasheed, 1927-2020)
(tradução livre do espanhol realizada por Marco Antonio Bin)

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