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Foto de Harold Feinstein, 1969 |
Negociou com um Zé-ninguém a execução, um sujeito que mora num bairro distante. Sai para ver à distância o crime, um longínquo sentimento de amor e ódio o conduzem. Encontra na emoção forte – o assassinato que irá presenciar e a relação com a sra. Gubrech – o elixir para desencantar sua narrativa (e não sua vida - confusão entre realidade e ficção).
O
dia chuvoso do crime. O sr. Martinez se emociona ao se preparar para ir ao
local. Ônibus para a Paulista. Chuva forte, a água que alaga as calçadas e escoa como cachoeira pelas ruas transversais. O trânsito. Protela ao
máximo, faltam duas horas, quer chegar antes e observar por alguns minutos o homem que desconhece seu destino.
Pensa:
Como serão os derradeiros passos encharcados do desconhecido? Afinal, por que esse pobre homem foi o escolhido? Não faz ideia. Certa vez, o viu em uma banca de livros na rua. Vestia uma camisa vermelha e como não gosta de vermelho, pronto, decidiu. Desloca-se então e encontra o sujeito, em sua brutal insignificância, no lugar
de sempre. Está a poucos metros dele, sente asco. Desiste, não quer ver o desenlace contratado.
Agora se exaspera: é o matador que não cumprirá o trato. Torce por isso. Tenta avaliar um contraplano que impeça o avanço da engrenagem. Circula pela Paulista. A água sendo retirada por rodos pelos empregados. Caos, desaba o mundo em água, foi uma péssima ideia se refugiar no Conjunto Nacional. O nível de água sobe, sufoca, desfalece, não sabe nadar, submerge aos poucos, sem que encontre alguma ajuda redentora.
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