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Foto de Ernest Haas |
Uma imagem recorrente sobressai de minhas recordações. A jovem garota de longos e ondulados cabelos castanhos, sorridente, ladeada por dois outros jovens que eu conhecia de vista das salas de aula. Caminhavam em meu sentido, pelo corredor das classes de pós-graduação. Logo tomaram a direita, dirigiram-se ao balcão da lanchonete, pediram seus cafés e se acomodaram em uma mesinha à esquerda onde eu estava com meu livro e minha timidez. Pensei: que linda mulher! mas logo em seguida, como uma condição inseparável dessa conclusão, Jamais conseguiria me aproximar de tanta beleza e inteligência juntas! Sim, porque ela conduzia a conversa com os dois rapazes, de um modo leve, altaneiro. O sorriso da bela jovem me marcou profundamente, cintila diante de mim até hoje, com suas reconstituições imaginárias, que naturalmente borram, revisam, iluminam partes do cenário, de acordo com meus desejos. E sempre amei aquele jeito descontraído, impossível de proporcionar indiferença. Sempre comento para Jessica que aquele foi o primeiro lampejo de maravilhamento que nos levou a uma aproximação metódica, contínua, dez anos antes de nos conhecermos. Naquele momento fiz o que me era possível, acompanhar seus gestos e vê-la partir com seus amigos de volta à sala de aula. O tempo se incumbiu, por caminhos inesperados, em conceder o reencontro nas circunstâncias da vida que sedimentaram uma apaixonada união. Ela costuma rir dessa minha predestinada lembrança e apenas confirma que naquele momento não teríamos ficado juntos. Concordo, o tempo foi generoso nesse sentido. Hoje ela está ali, docemente acomodada no sofá, em meio a sua leitura, a cabeleireira linda como sempre, os óculos inseparáveis que lhe dão mais charme. A bem dizer, o tempo não passou para o nosso amor, permanece edificando possibilidades para nossos sonhos comuns.