08 setembro 2024

A invisibilidade do poder real


A última ceia em Gaza, por Mohammad Sanobari


Ontem completou 11 meses do massacre contínuo das FDI contra o povo palestino de Gaza, sem que o mundo tome qualquer providência. Que força misteriosa desse poder invisível, que garroteia a mídia internacional e os políticos das nações. Em qualquer circunstância semelhante, haveria uma condenação irrestrita ao governo israelense, seguida de sanções econômicas. Exceto em algumas situações pontuais, nada ocorre. É como se essa região do planeta não existisse, indiferente aos movimentos massivos da população, forçada a se deslocar de um lado para o outro, segundo as determinações das FDI, antes de realizarem seus bombardeios chamados de "cirúrgicos", mas que matam dezenas de pessoas inocentes. Por muito menos, condena-se moralmente e sanciona-se economicamente a Venezuela, depois das eleições no país. 

A cada semana que passa a figura de Milei se assemelha mais a um marionete: seus movimentos e sua fala são produzidos por outras mãos e outras vozes, tão poderosas quanto ocultas. Suas constantes aparições públicas sinalizam duas certezas, com as quais lida sob esse apoio sinistro: a destruição da cultura argentina e a preservação dos privilégios dos grandes grupos econômicos. Por cultura argentina, incluo os hábitos e costumes da população mais pobre, condenando de modo gradativo mais porções sociais à vala comum. A classe média corroída, vai se dissolvendo em uma massa de indigência. O quadro a curto prazo é de fome e desesperança, e ainda não é possível dizer até onde o massacre da serra elétrica irá prosseguir. Some-se a isso a violência policial contra as manifestações, quaisquer manifestações, em um contraponto bizarro da alardeada liberdade. Recentemente a polícia de Bullrich atacou os aposentados em marcha nas ruas - e o silêncio tumular da classe política dá mostras de companhar, como que anestesiada, as diatribes do presidente. 

Enquanto isso, temos uma profusão de torneios e campeonatos de futebol, que se sobrepõem avidamente, como um entretenimento eficiente ao sofrimento do mundo. O pior de tudo são as mesas de análises táticas, mas deixemos esse aspecto para outra hora. Não bastam mais os campeonatos nacionais de clubes, cada vez com mais ganância intercalam os torneios internacionais sem fim, expandidos ao sabor da ambição política e financeira. Não há mais limites para os novos formatos, para as novas disputas, os cifrões se acumulam, tudo sincronizado a uma grande roleta de apostas, amparada por tabelas estatísticas que sinalizam os desempenhos. Nada permanece, tudo se transforma. Atletas transformados em índices de rendimento, torcedores tranformados em massa de manobra, espetáculos cada vez menos populares e mais elitistas. O Capital multiplica seu investimento construindo novas modalidades de controle, com garantia plena de retorno, a banca que não perde. E o mundo civilizado, submetido à roleta que não para de girar, faz do cidadão o convidado à mesa para sangrar e perder. A carnificina não parece ter fim, e se insinua cada vez mais invisível, sorrateira, diante da parvoíce da maioria.

(atualizado em 09.09.2024)



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