27 junho 2024
Madri
24 junho 2024
Sobre Lênin e a Palestina
Lênin e Palestina, tudo ao mesmo tempo agora |
Sobre Lênin, leitura da rápida e bem escrita biografia escrita por Moniz Bandeira, com primeira edição publicada originalmente pela Alfa Ômega em 1978, sendo reeditada em 2017 pela Civilização Brasileira. De Said, a discussão sobre a questão palestina, em um texto instrutivo e ainda muito atual, publicado pela editora Unesp na mesma época que o Lênin de Bandeira, em 1979, com um prefácio do autor de 1992. A leitura avança como está posto, juntos e simultaneamente, me agrada saltar da cuidadosa análise de Bandeira para a cuidadosa construção de Said.
Temas espinhosos e difíceis, como se vê, há bastante tempo, e lamentavelmente muito pouco contemplados hoje em dia, malgrado tanta pressão econômica vinda do neoliberalismo, por um lado, e pelo brutal morticínio contemporâneo, de outro. Definitivamente, não são discussões levadas às salas de aula, não pela rejeição de nossos jovens, mas pelo mal preparo, para não dizer pura incompetência, dos professores. Tornaram-se tabus, expostos quando o são, de modo supérfluo, assim como o tema do aborto ou da violência racial.
Falar sobre o comunismo revolucionário ou sobre o direito de autonomia da Palestina, hoje, proporciona de imediato um mal-estar incompreensível. E preservam-se, pela má-vontade (ou pela ignorância), como assuntos que despertam preconceito, mensurado pela profunda desinformação geral, o que significa dizer, em termos bem diretos, que são de imediato congelados na prateleira dos temas "polêmicos", e que por isso, adiáveis ou descartados.
O que sugere, quase de imediato, o fim de qualquer conversa elucidativa.
05 junho 2024
Distorções
Em algum lugar de Rafah, maio de 2024 |
Por mais paradoxal que possa ser, o comportamento geral, pautado em interpretações de coerência ética nula e violência tolerada, só se torna dominante por seu caráter pusilânime, em que não existe qualquer necessidade de justificação dos atos.
Tudo passa a ser aceito e nada tende a ser explicável. Exemplos? A vitória de Milei na Argentina, a de Bolsonaro no Brasil, o massacre da população palestina ao longo de oito longos meses, a divulgação de boatos em meio ao catástrofico dilúvio no Sul do país, e por aí afora.
Grandes e pequenas maneiras de ferir o outro, que se naturalizam no dia a dia pela violência e pela indiferença vulgar. Bolsonaro dizia que seria necessário destruir para depois recomeçar do zero. A que se referia?
Milei diz que literalmente que as pessoas saberão como não morrer de fome, e como presidente de uma nação, ignora qualquer medida de auxílio às parcelas menos favorecidas, que crescem a cada dia.
Netanyahu faz ouvido de mercador ao clamor mundial para suspender os bombardeios, como se a insânia exigisse o aniquilamento físico de tudo e de todos em Gaza. O caloroso clamor mundial pelo cessar-fogo encontra uma resposta com mais foguetes e mortes.
Na Espanha recentemente ocorreu um evento que reuniu a direita mundial, do partido Republicano ao Chega, do Vox à União Cívica Húngara. Milei utilizou o evento para caluniar de modo vil a esposa do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez.
É como se o comedimento fosse eliminado do dicionário político e em seu lugar emergisse uma nova ordem, pautada pela crueldade acintosa, preparando o campo para uma semeadura da intolerância como ação política, e de uma colheita nefasta para a sociedade humana.
Promove-se a destruição pelo ato violento, implácável, sem limites. Para quem sofrer as consequências, não há mais direitos a se pleitear como amparo, a brutalidade se torna absolutamente necessária e disponível. O que se espera com isso?
A difusão da desesperança, da quebra de confiança no outro, da impossibilidade de se acalentar um projeto civilizatório de respeito. Ao que tudo indica, trata-se de um processo global, que se mobiliza com eficiência demoníaca, para eliminar qualquer rastro de compaixão.