16 julho 2023

Compay e o Buena Vista


Compay e seu indefectível charuto

 

Há alguns dias, cumpriram-se 20 anos da morte do cantor e compositor Francisco Repilado, mais conhecido como Compay Segundo. Viveu de maneira exuberante até os 95 anos, cantando, amando e fumando seus indefectíveis cubanos. Poucos anos antes, com o lançamento do filme Buena Vista Social Club, de Wim Wenders, tomei contato com suas canções e por extensão, de seus imponentes companheiros de criação e interpretação, como Ibraim Ferrer, Rubén González, Eliades Ochoa, Omara Portuondo, e de tal modo me envolvi na delícia daqueles ritmos cubanos, que passei a adquirir de modo compulsivo seus discos, que ganhavam espaço nas prateleiras das grandes lojas, como a Fnac e a Cultura. Foi uma saudável redescoberta mundial, e começaram a viajar e a ganhar espaço nos meios de comunicação. 

Quando vi o filme, ao ouvir as falas de cada um deles, imaginava a alegria que os tomava em poder cantar para o mundo, magnificamente reconhecidos a ponto de uma apresentação no Carnegie Hall. Estavam bem velhos, e eu igualmente imaginava quanto tempo poderiam prolongar a felicidade que irradiavam. E assim foi, primeiro Compay, depois, ainda no mesmo ano (2003), González, e um pouco mais tarde, Ibraim, em 2007. A beleza do son, do danzón, do cha-cha-cha, cantados por esses personagens maravilhosos permaneceu por mais um tempo e aos poucos, sem fenecer totalmente, deixou o proscênio. 

Vez ou outra, atravessam os acordes de uma ou outra melodia do Buena Vista, mas a passagem dos anos tratou de empoeirar o brilho da permanência daquelas canções. Se houve um tempo em que imaginava o quanto Compay, especialmente Compay, permaneceria vivente e abençoando-nos com seu largo sorriso, hoje recordo os 20 anos de seu desaparecimento. Simples assim. O tempo que nos opaca e nos confina, condenando-nos a um fim inescapável, nesta imensa casca rochosa de beleza ímpar, que se equilibra em magma líquido, fumegante e suas profundezas, e que gira em ciclos definidos, em meio ao espaço escuro, finito, indizível em seus mistérios.



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