30 junho 2023

O epílogo do facínora



 

Sérgio Ricardo, Normando Marques, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão. Que delícia, linda imagem!

Por que postei esta foto? Porque gosto dela, dos seus componentes, da sua disposição, do movimento generoso que ela oferece. 

Ela emana alegria, musicalidade, inquietação. Emana futuro! Nossa Cultura Popular.

E desse modo comemoro. 

O fim, a derrota do canhestro, do coisa ruim, que nem devia ter aparecido. 

Do facínora que meteu os pés pelas mãos, que não cansou de destruir, de perseguir, de insultar, e nada mais fez.

E que hoje, o TSE tornou inelegível por oito promissores anos. 

Não merece foto nem o nome pronunciado. 

Basta dizer assim: um desclassificado que teve a descompostura de atravessar o nosso caminho. 

Mas vai para o buraco miserável que cavou. Está fora, não atrapalha mais! 

Os malefícios que realizou não serão esquecidos, tampouco absolvidos. 

Resta a condenação jurídica por eles. 

Sabemos que não vai demorar.  

E então dormiremos o sono dos justos. Nossa é a vingança e a recompensa, porque o dia da sua ruína já chegou.



24 junho 2023

Sonata invernal


Conrad Felixmüller, Heimkehr - Tautenhain 1948

Amanhã visito meus pais, comentou Mariano com sua esposa. Sentia a necessidade de estar um pouco mais próximo a eles e tomou a decisão, o que de fato se constituia numa alegria. Naquela casa, desfrutava de seu sossego, do ritmo suave das coisas, da presença delicada de seus pais, do sono profundo, imerso na quietude do bairro. Estar com o pai significava uma placidez monumental, recebido por seu silêncio a cada visita mais acentuado, raramente quebrado por um sorriso fugidio ou um espasmo adormecido. A paz usufruida nesses dias era inalterável, começava com sua chegada (e por certo já estava lá antes) e escorria ao longo dos dois magros dias que permanecia. Havia um componente mágico que visualizava naquelas paredes, o passado, presente e futuro, alinhado aos movimentos de seus dois moradores. O futuro é o que brota de imediato, o passado é composto pelos sabores das leituras do que foi, ou poderia ter sido, pensava. Vez ou outra, o presente era animado por uma presença fortuita, que podia ser sua irmã, os sobrinhos, o irmão, como fora recentemente, vindo da Austrália. A casa está sempre lá, convidativa, irredutível, e não se arroga grandes pretensões, nem mesmo por seu adorável jardim. Mariano a revisita com certa regularidade e cumpre os mesmos rituais, os mesmos caminhos, da sala para a cozinha, o abraço nos pais, subir para o banho, descer para recolher o pai e juntos subirem para a sala, onde acompanha o velho homem adormecer em sua poltrona, indiferente ao que se passa na TV. Então desce para conversar com a mãe, saber das novidades, sentir o longo amadurecimento de uma vida, a um toque da lembrança. Não demora, logo a deixa e retorna ao pai, e só mais tarde se reúnem todos na cozinha, para o jantar frugal. Mas, por céus, nada é mais marcante, nada dá mostras de ser mais simbólico de uma longa vida calcada na fé suprema e indizível, quando Mariano os espera ao pé das escadas, ao vê-los descer depois de uma longa noite de sono, na tarde do dia seguinte. A oração dita por um e repetida pelo outro, mansamente, degrau após degrau, antes de se acomodarem para o que denominam café da manhã.



08 junho 2023

As imagens desejadas



 

Confesso que a ouço muitas vezes ao dia. Não apenas a desejar-me boa noite, mas também os fragmentos de seus pensamentos, os mais aflitos, os mais suaves e esperançosos... No primeiro caso, murmúrios que dialogam comigo, normalmente ecoados em distintos momentos do dia. E no último caso, a conexão é límpida, instantânea, imersa em sonoridade encantada! Me recobre de uma alegria instantânea, que agora descubro sua origem! 

E também confesso que muitas vezes não apenas ouço, mas participo de seus sonhos, como um observador atento, que se desgarra do sono ameno para esse espaço de luz e amor de suas rememorações... A tudo acompanho, e me emociono. Permaneço assim, em insondável desvario, até regressar para o meu descanso, que pode seguir quieto e profundo, ou ao contrário, uma vez contagiado pelas histórias de seus sonhos secretos, retomá-los e continuá-los como meus...

Nos momentos sem conexão, sobra-me a saudade vigorosa, tão explêndida nas imagens desejadas, como esperançosa com o dia seguinte.



06 junho 2023

Lançamento do 'Anjo do Amanhã'




Neste sábado, dia 3 de junho, eu, Mônica e um punhado de pessoas queridas, ocupamos por algumas horas o simpático Espaço Anexo do Itaú para um novo lançamento, agora do romance Um longo dia na vida de Ângelo Domani, pela editora Caminhos Literários. Há dez meses estivemos por lá para lançar O que aparentemente nos resta, meu primeiro volume de crônicas, pela Kotter. 

Ainda desta feita tenha comparecido um número menor de pessoas, o encontro foi extremamente prazeroso, com boas conversas, mais longas e pessoais, sob um magnífico dia outonal e, para minha surpresa, marcado por questionamentos sobre a construção da narrativa que se completou depois de longos anos. Dos exemplares que restaram, a maior parte já está adquirida por amigos que não puderam comparecer no sábado. 

Resta-me agora a expectativa sobre as leituras e as críticas dessa longa jornada do anjo do amanhã, como descreveu-me carinhosamente uma estimada amiga. Certamente elas virão com o tempo. Mas para um livro que há menos de um ano não tinha qualquer possibilidade de ser publicado, todas as boas surpresas que ocorreram nestes poucos meses já seriam suficientes para a grande alegria que vivencio e compartilho com tantos amigos e pessoas queridas.