10 janeiro 2023

A força das coisas

 

Chegaram, foram escorraçados e agora detidos

Quando o ex-capitão assumiu a presidência do país, há quatro anos, em meio a suas bravatas e grosserias políticas, lembro que considerei neste blog a dificuldade que seria extirpar esse cancro que penetrou a epiderme de nossa sociedade, e sua derrota só poderia ocorrer como algo proporcional a uma destruição completa, semelhante ao que ocorreu aos governos fascistas em 1945. Descartei uma guerra mundial, por sua absoluta inconveniência, nos dias de hoje. Restava imaginar algo de grandioso, que estava completamente fora de qualquer vislumbre nas análises políticas da esquerda. Acreditava que Bolsonaro podia ser derrotado, mas a um custo imenso, a ser considerado. Como se não bastasse a sistemática destruição das instituições e do sistema político do país, levada a cabo ao longo de quatro anos, havia uma abjeta construção destrutiva que prometia um futuro distópico, pautado na mentira, na violência, no preconceito, na prevaricação. O ser consolidado pela má-fé por excelência. 

Com a vitória de Lula nos dois turnos, em outubro, sobreveio uma tensa expectativa, em que os novos tempos democráticos que se anunciavam não viriam sem algum tipo de cobrança. Sabemos o que foram os 60 dias de transição, por um lado os esforços insanos para se garantir um orçamento mínimo para a continuidade dos programas sociais, o teto de gastos com um bonus aprovado pelo Congresso, de 145 bilhões. Isso por um lado. Por outro, o silêncio abissal do derrotado, que não se manifestava a não ser para algumas nomeações políticas. Por fim, fugiu para Miami, o que parecia ser coisa boa, tendo em vista a linda cerimônia de posse de Lula, no primeiro dia do ano. E bastou uma semana para que os piores pesadelos se abatessem sobre Brasília, sob a marca de uma invasão de gafanhotos verde-amarelos, que destroçaram o Planalto, o Congresso e o STF. Foi essa destruição simbólica que me remeteu ao custo que teríamos de pagar para esconjurar, de modo completo, esse mal que nos acometeu.

A invasão anunciada há tempos se confirmou, nos moldes da invasão do Capitólio, dois anos antes. O rastro do arrasamento foi o canto do cisne desse radicalismo desprezível, sem pautas reivindicatórias, sem projeto de nação a não ser o brado de intervenção militar. Demoliram os símbolos de três edifícios, e colheram uma dura derrota quando cantavam vitória, na ação enérgica e imediata dos atores das instituições atacadas, Lula, os congressistas e os juízes do STF, com medidas punitivas que deverão prosseguir por um bom tempo, com a captura de todos os golpistas, dos arruaceiros aos financiadores. Não sem razão, sinto-me mais confiante em nossa democracia e no governo Lula agora, depois da tempestade. Com a retirada forçada dos acampamentos golpistas, não sobra pedra sobre pedra das intensões desses grupos desvairados, alinhados ao que há de pior do bolsonarismo. 



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