20 janeiro 2023

Sobre a caravana e os cães




Sabem, tenho a impressão de que iremos conviver com fantasmas por um longo tempo, enquanto colocamos a casa em ordem. Não sei se a democracia veio para ficar em definitivo, mas enquanto ela estiver por aqui, teremos de nos desdobrar para a sua manutenção eficiente, enquanto convivemos com pesadelos golpistas. Ao que tudo indica, o remédio para essa primeira onda, que veio em 8 de janeiro, está na medida certa: investigações e ações judiciais que identificam os transgressores, fichamento, abertura de inquérito, detenção preventiva. É um trabalho meticuloso levado a cabo pela polícia federal, que vai aos poucos capturando os mandantes, patrocinadores e os arruaceiros. Em suma, vivemos a reinstalação do convívio em um estado democrático de direito, com responsabilidades e obrigações claramente definidas, onde qualquer ruptura é sancionada pelas leis vigentes. 

Sinto-me seguro nesse estado de coisas, sabedor de que a ordem jurídica foi plenamente restabelecida, sem suspeições autoritárias, e consciente de que os valores culturais recuperam os cuidados indispensáveis para sua continuidade. Há um conforto ruidoso, se é que podemos falar assim, onde acompanhamos a caravana passar com cães ladrando, cada vez com menos força e propriedade. Aos poucos se evidencia a canalhice moral de quem se prestou a bagunçar o coreto. Nada mais saudável do que contribuirmos para que os músicos retornem e voltem ao coreto, a tocar as inúmeras variações da sinfonia da democracia. É o que temos por enquanto.



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