O presidente eleito Lula |
A vitória
de Lula se consolida aos poucos, irradiando do campo da esquerda, passando pelo
centro e alcançando parcelas renitentes da direita, que de algum modo silenciam
sem tolerá-lo. Me parece natural que seja assim, primeiro não se constitui
unanimidade nas democracias, e depois, as manifestações legítimas que
ultrapassem seus limites terão a pena da lei para demovê-las. Assim é. Lula não
tem ilusão de que encontrará resistência ao seu governo, mas está determinado –
como fez nos dois governos seus anteriores – que terá de governar para todos,
com ênfase para as classes menos favorecidas. Ontem foi recebido pelas
instituições brasileiras que foram escorraçadas pelo ex-capitão que ocupou a
cadeira da presidência, o STF, a Câmara e o Senado, nestas duas últimas,
recebido pelos respectivos presidentes. Sem rancor, sem mágoa, promovendo o que
parecia uma ficção neste país, o diálogo franco. As imagens são belas, a mesa
em que se reuniram os ministros do supremo ao seu lado, os registros
fotográficos junto a Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, para terminar com a
entrevista do lado de fora da Câmara e do Senado, sob o lindo pôr do dia em
Brasília.
A despeito dos alucinados bloqueios que ainda pipocam aqui e ali pelo país, reunindo um punhado de radicais embandeirados, a cada dia respira-se mais tranquilidade, mais confiança, mais democracia. Sucumbem na escuridão das noites a violência, a intolerância, a mentira, para ressurgir com mais força, na aurora de cada manhã, a serenidade, a solidariedade, a verdade dos fatos. Desaparece como o hálito ao vento as ameaças tresloucadas, imponderáveis. Tenho de acreditar que a sintonia acolhedora que perpassa os meios de comunicação hegemônicos, sem mais aquele tom agressivo dos editoriais ameaçadores; no cumprimento preciso da letra da constituição, sem firulas ou subterfúgios interpretativos, pelas instituições republicanas; na capacidade produtiva e evolutiva dos empresários de boa-fé, preocupados com os desígnios do país; na disposição inesgotável da grande massa de trabalhadores, sempre disposta aos mais desafiadores esforços, e para quem esse governo voltará seus olhos com redobrada atenção.
Resta acreditar e lutar por esta perspectiva sincera, que se esboça no presente construa os caminhos para o futuro, sob uma saudável catarse positiva, cujo alinhamento nos permita retomar os valores de uma nação, e nos catapulte de volta ao estágio do bem-estar social que, um dia, lá atrás, desfrutávamos com alguma sabedoria e muito gosto.
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Ontem, a morte de Gal Costa e de Rolando Boldrin. Gal desaparece antes da hora, meros 77 anos e muita energia para nos contagiar. Ela, como Gil, Caetano, Bethânia, Chico, Milton, fez parte da minha vida, ou seja, nunca imaginei minha existência sem a presença de cada um deles, pela força de suas canções, pela beleza de seus movimentos. Boldrin tinha 86 anos, muita sabedoria para declamar em seus programas sobre o sertanejo brasileiro, essa cultura menosprezada, que se arraiga por todo o interior do Brasil, combinando características comuns entre povos do Nordeste, do Centro-Sul e da Amazônia. Uma jornada que combinou tristeza e esperança.
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