19 novembro 2022

As benesses de um tempo bondoso


Moniquinha e o mar

O mar fazia de suas ondas um ir e vir contínuo, que se esparramava pela areia ao longo da praia, enquanto deambulávamos felizes, conversando sobre política brasileira, os novos tempos vindouros, novos horizontes de esperança. Olhávamos para a beleza do encontro ao longe, entre o mar revolto e o céu encoberto marcado por intermitências azuis, e confirmávamos silenciosamente os encantos da curvatura da Terra, agora uma vez mais soberana, sepultando o rumor dos desalmados. O areal quase deserto, aqui e ali os pais com suas crianças brincando expansivas. Observávamos as ilhotas pelo caminho, erguendo-se frondosas, impassíveis, pontilhando a paisagem em meio a seus mistérios rochosos. Do lado oposto, a imponência da mata atlântica adensada, sublime, sobre o relevo montanhoso. Acompanhávamos as embarcações ao longe, deleitados no prazer do momento. Tínhamos as mãos dadas, como um apoio seguro para todas as calmarias e tormentas futuras. O vento não cansava de nos acariciar as faces, em sintonia com a temperatura amena que dispensava mais cuidados com a pele, bastavam nossos bonés, o dela com o tom azulado e a palavra Montevideo, o meu vermelho com o símbolo do MST, era tempo de exibirmos o que fosse, com liberdade e confiança. A água do mar nos alcançava e girava em torno dos nossos pés, que afundavam na areia fofa, e ali permanecíamos fincados, abraçados. E sorríamos. Nem pensar para onde ir e quando regressar. E imaginávamos. Recuperar o tempo perdido, e reverberar solenemente. Respirávamos a plenos pulmões o ar da democracia restabelecida, naquele rincão cinzento, inquieto, em sintonia com os pensamentos. Cada passo nos enveredava para as brechas de um futuro imerso em grandes desafios, não havia coisa mais adorável do que acreditar em um mundo melhor, nas andanças à beira-mar.




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