04 agosto 2022

Favas contadas




Triste ver a situação que o país se encontra: miséria nas ruas, sucateamento do ensino público, mais de um terço dos trabalhadores com renda mensal de até um salário mínimo, ou seja, até 1.212,00 reais. Sigo me adaptando à volta da Europa, aos horários, ao ritmo dos dias, ao sentimento do mundo ao redor. Nas ruas, um impressionante contingente abandonado mostra o desinteresse pelas políticas públicas, da esfera municipal à federal. Nossa condição de periféricos do capitalismo se expressa de modo indubitável no desprezo pelo humano e na incapacidade de produzir políticas que amenizem a exploração dos países centrais. Dói-me constatar que não sairemos desse ramerrão, dessa indigência moral, social e econômica. Somos incapazes de articular um consenso interno que nos redima, ou que possibilite alguma ousadia nos fóruns internacionais. 

São muitos, imensos e atávicos os caminhos que conduzem aos interesses das elites famintas que não se importam em esfaimar o povo. O tempo da dignidade já passou, talvez tivéssemos mais chances lá atrás, nas composições dos fóruns mundiais pós-segunda guerra. Talvez se Vargas tivesse suplantado as marionetes a serviço do Império, ou se Goulart incorporasse o destemor de Brizola, ou mais recentemente, se não tivéssemos cedido de modo tão indulgente as chaves do poder aos representantes dessa oligarquia devoradora, que ousou refestelar-se como nunca em sua ignorância abjeta, a ponto de propagar a nova ordem de uma Terra plana, de fomentar à luz do dia os caprichos da corrupção institucional, de aprofundar despudoradamente o ódio, a mentira, a incompetência, tendo ao fundo as mazelas de uma desigualdade social que nos reporta ao fazendão colonial que um dia fomos.

(atualizado em 04.08.2022)

 

 

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