Triste
ver a situação que o país se encontra: miséria nas ruas, sucateamento do
ensino público, mais de um terço dos trabalhadores com renda mensal de até um
salário mínimo, ou seja, até 1.212,00 reais. Sigo me adaptando à volta da
Europa, aos horários, ao ritmo dos dias, ao sentimento do mundo ao redor. Nas
ruas, um impressionante contingente abandonado mostra o desinteresse pelas
políticas públicas, da esfera municipal à federal. Nossa condição de
periféricos do capitalismo se expressa de modo indubitável no desprezo pelo
humano e na incapacidade de produzir políticas que amenizem a exploração dos
países centrais. Dói-me constatar que não sairemos desse ramerrão, dessa
indigência moral, social e econômica. Somos incapazes de articular um consenso
interno que nos redima, ou que possibilite alguma ousadia nos fóruns
internacionais.
São
muitos, imensos e atávicos os caminhos que conduzem aos interesses das elites
famintas que não se importam em esfaimar o povo. O tempo da dignidade já
passou, talvez tivéssemos mais chances lá atrás, nas composições dos fóruns
mundiais pós-segunda guerra. Talvez se Vargas tivesse suplantado as marionetes
a serviço do Império, ou se Goulart incorporasse o destemor de Brizola, ou mais
recentemente, se não tivéssemos cedido de modo tão indulgente as chaves do
poder aos representantes dessa oligarquia devoradora, que ousou refestelar-se
como nunca em sua ignorância abjeta, a ponto de propagar a nova ordem de uma
Terra plana, de fomentar à luz do dia os caprichos da corrupção institucional,
de aprofundar despudoradamente o ódio, a mentira, a incompetência, tendo ao
fundo as mazelas de uma desigualdade social que nos reporta ao fazendão
colonial que um dia fomos.
(atualizado em 04.08.2022)
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