20 junho 2022

Sobre a natureza criminosa


São Paulo ao anoitecer

Ah como são alvissareiras estas manhãs de sol aberto e generoso! Além de afastar o frio, oferecem perspectivas de jornadas calorosas. Isso parece pouco, mas foi um dos raros alentos que me animou ao longo destes últimos seis anos, ver o dia raiar ensolarado! E pouco mais de alegria, como minhas escrituras e o amor vivido com Moniquinha. Situações que despontaram com regularidade, amenizando o descalabro desse desgoverno que nos enfiou em uma sepultura úmida e escura. 

Dia 15 foram encontrados os corpos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, cruelmente assassinados no vale do Javari, Amazônia brasileira. Algum capitão do mato a mando de garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais da região fez o serviço, afundando depois a embarcação em que os dois estavam. As autoridades passaram a se empenhar nas buscas apenas depois do clamor internacional, o que criou uma pressão insustentável para evitar a ocultação do crime. 

O patético ex-capitão que ocupa a presidência deste país, havia atribuído o desaparecimento de ambos à "uma aventura que não é recomendável que se faça", simples assim. Fico pensando com meus botões se uma aventura recomendável é ameaçar constantemente a democracia brasileira com bravatas. Deixa o depravado, sempre consciente de suas parvoíces, escapar a natureza criminosa que condena diariamente seu desgoverno.

E penso diariamente nesse estado de coisas: a que ponto um cidadão é capaz de chegar para cumprir um desígnio maléfico, a serviço de um crápula, ou de uma ideologia? O que o induz a agir com tamanha e descomunal violência contra outro cidadão? Que vozes se permite ouvir para vandalizar, quebrantar, assassinar e como é possível depois viver com a consciência permanente da ação criminosa? Qual a paz que encontra? Qual o consolo que o acalenta? Como consegue voltar a conviver com os sentimentos humanos no convívio social?



Nenhum comentário: