Tutlingen, 1989 |
"No fundo, vivemos de sobras e nos
damos por felizes com isso. Sobras de salário, de tempo, de espaço, de
paciência, de sonhos, de prazeres. Não nos alegramos mais com a imensidão
convidativa, mas com os bocados proibidos, e nos esfalfamos cada vez mais para
obtê-los. Só duas coisas contradizem essa, digamos, norma da existência
pós-moderna, que se espraiam indefinidamente. Uma é a miserabilidade, plena em
sua amargura, outra é a presença de deus, plena em sua bondade. Entretanto,
usufruí-las não resulta de conquistas humanas, mas da imposição daqueles que
possuem as maiores sobras. E assim vamos sendo tangidos, motivados pelas
cartilhas de autoajuda, entusiasmados com a tecnologia e felizes em podermos
adquiri-la com as migalhas espargidas pelo caminho."
(in Diários, 19
de dezembro de 2006)
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