02 maio 2020

Pétalo nauseabundo


Bansky


O mais inusitado desse momento na política brasileira é o completo imobilismo diante dos fatos, como se qualquer atitude tomada não alterasse a dimensão do cataclismo que envolve nossas vidas. Pois nada parece abalar a caminhada destrutiva do capitão inconsequente e seu desgoverno em sua falta de projeto. Como se não bastasse as ações que promovem o desastre econômico, sobrevém a completa paralisia no combate ao Covid-19, ou mais precisamente, a profusão de falas grosseiras que pretendem se assentar com naturalidade, como se a bizarrice fosse o supra-sumo de uma nova ordem civilizatória em marcha.

Praticamente todos os dias nosso bom-senso é assaltado pelas barbaridades discursivas desse desgoverno, seja do capitão imbecil ou de sua insípida trouppe, amante do terraplanismo e da burrice ontológica. Como se não bastasse jogar com palpites atravessados e contraditórios sobre a pandemia que nos assola, exala-se o desrespeito pelos mais de cinco mil mortos ao responder aos jornalistas que lamentava, mas não fazia milagres. A fala obviamente foi muito mais intempestiva e jogou no ar mais um brado coletivo de indignação, que como uma onda no mar, se eleva e morre na praia.

Fracassamos em nossos propósitos como Estado democrático de direito a cada bufonaria proferida pelo imbecil, ainda que seja resguardado por milhões de celerados que creem que ele faça parte de uma estirpe de mitos olímpicos que resolverá os problemas do país. É impressionante ver a ignorância grassar sem apelo, mas pior é observar o imobilismo de nossas instituições públicas, de nossas representações políticas, das lideranças empresariais e religiosas. Para não ser injusto, vi hoje uma live em que participavam seis líderes políticos que se dignavam a articular uma forte reação ao que consideram um presidente assassino e sua escalada fascista.

Mais uma vez penso que apenas se conseguirá agregar um punhado a mais de almas confusas e arrependidas. Persiste a ausência de mobilização onde se faz necessário; permanece a ausência de uma comunicação conjunta, que incorpore e contemple as parcelas menos favorecidas; persevera a completa ausência de uma pedagogia crítica que possibilite o discernimento político. Enfim, a oposição não consolida um projeto de atuação de suas bases, embora não haja dúvidas de seu empenho junto às causas sociais pelo Estado do bem-estar e sua manutenção. 

Mas é doloroso ver as oportunidades, dadas por esse desgoverno, serem desperdiçadas. Prevalece o dito de Pablo Neruda, el odio (que) se ha formado escama a escama, golpe a golpe, en el agua terrible del pantano.



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