Chegará o dia em que os oportunistas de hoje, vinculados à
exploração pelo capital, serão devidamente levados às barras da justiça e
julgados por uma justiça que de fato mereça o benefício do respeito. Por todos
os lados pipocam os aventureiros, pequenos, médios, grandes, que no afã de
cobiçarem tudo, ou oferecerem o caminho da cobiça, desregulamentam, fraudam, subornam,
vendem a alma ao mais decrépito demônio, como se fosse apenas o desdobramento
de bons negócios. Definitivamente não há salvação para o capitalismo dentro do
capitalismo.
À luz dos fatos, os escândalos se desvelam a cada dia, como se a
luz do sol atingisse os cantos úmidos, e os ratos se vissem surpreendidos em
seu obscuro banquete. Não passa um dia sem uma notícia que em circunstâncias
normais seria motivo de indignação; é como se, de modo premeditado, se
combinasse entre esses ratos humanos a importância de romper com as normas civilizatórias,
e pela abundância de canalhices, naturalizá-las como parte indigesta do
admirável mundo moderno. E como se não bastasse, o que sabemos desses golpes –
financeiros, políticos, jurídicos – são devidamente acobertados por uma mídia
que já não se incomoda em não cumprir com seus desígnios de investigar e
reportar.
A imagem acima tem bastante a ver com essa discussão. À parte referir-se ao cartaz de uma exposição fotográfica de 2013 em Santiago, ela em si evidencia a simplicidade reunida em torno de uma causa, em clara oposição ao tempo presente de nossa América
Latina, em que os arautos do capital financeiro anunciam sedentos a retomada da rapinagem
material de nossas riquezas. Simultânea à destruição de nossa singeleza cultural,
saborosamente mesclada como sugere Carpentier, a foto retrata a serenidade de
um tempo de transformações. Nada prometido de modo fácil, como requer o interesse
fútil consumista em sintonia com o pensamento mercantilizado de nosso tempo, mas
transformações sofridas, inseridas em um processo histórico de conquistas, para o qual se exigia paciência e determinação.
Sofridas porque se moviam rumo ao horizonte utópico, deixando suas
marcas de conquistas perenes ao longo do caminho, e que só não deram mais
frutos porque suas árvores foram brutalmente arrancadas em nome de um punhado
de dólares. Os gorilas diziam da necessidade de se negar sonhos rubros e
perigosos, outros menos fardados pregavam as facilidades do interesse fútil
consumista, e assim fomos perdendo nosso sorriso generoso, nos deixamos levar
pelo nada vezes nada dos outros.
Os olhares e os rostos mapuches revelam a marca de suas origens. Trabalhadores
que forjavam sua cidadania. Tinham uma esperança de redenção, foram traídos por
una cuadrilla de nuevos ricos com escudo,
com policia y com prisiones, como diz Neruda. Por mais que a imagem anuncie
um presente sem futuro, ela nos remete à mesma construção utópica de seus dias, talvez ensinando-nos mais claramente o caminho de las
grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir uma sociedad
mejor.
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