13 janeiro 2018

Los pasos todavía perdidos


Chegará o dia em que os oportunistas de hoje, vinculados à exploração pelo capital, serão devidamente levados às barras da justiça e julgados por uma justiça que de fato mereça o benefício do respeito. Por todos os lados pipocam os aventureiros, pequenos, médios, grandes, que no afã de cobiçarem tudo, ou oferecerem o caminho da cobiça, desregulamentam, fraudam, subornam, vendem a alma ao mais decrépito demônio, como se fosse apenas o desdobramento de bons negócios. Definitivamente não há salvação para o capitalismo dentro do capitalismo.

À luz dos fatos, os escândalos se desvelam a cada dia, como se a luz do sol atingisse os cantos úmidos, e os ratos se vissem surpreendidos em seu obscuro banquete. Não passa um dia sem uma notícia que em circunstâncias normais seria motivo de indignação; é como se, de modo premeditado, se combinasse entre esses ratos humanos a importância de romper com as normas civilizatórias, e pela abundância de canalhices, naturalizá-las como parte indigesta do admirável mundo moderno. E como se não bastasse, o que sabemos desses golpes – financeiros, políticos, jurídicos – são devidamente acobertados por uma mídia que já não se incomoda em não cumprir com seus desígnios de investigar e reportar.

A imagem acima tem bastante a ver com essa discussão. À parte referir-se ao cartaz de uma exposição fotográfica de 2013 em Santiago, ela em si evidencia a simplicidade reunida em torno de uma causa, em clara oposição ao tempo presente de nossa América Latina, em que os arautos do capital financeiro anunciam sedentos a retomada da rapinagem material de nossas riquezas. Simultânea à destruição de nossa singeleza cultural, saborosamente mesclada como sugere Carpentier, a foto retrata a serenidade de um tempo de transformações. Nada prometido de modo fácil, como requer o interesse fútil consumista em sintonia com o pensamento mercantilizado de nosso tempo, mas transformações sofridas, inseridas em um processo histórico de conquistas, para o qual se exigia paciência e determinação.

Sofridas porque se moviam rumo ao horizonte utópico, deixando suas marcas de conquistas perenes ao longo do caminho, e que só não deram mais frutos porque suas árvores foram brutalmente arrancadas em nome de um punhado de dólares. Os gorilas diziam da necessidade de se negar sonhos rubros e perigosos, outros menos fardados pregavam as facilidades do interesse fútil consumista, e assim fomos perdendo nosso sorriso generoso, nos deixamos levar pelo nada vezes nada dos outros.  

Os olhares e os rostos mapuches revelam a marca de suas origens. Trabalhadores que forjavam sua cidadania. Tinham uma esperança de redenção, foram traídos por una cuadrilla de nuevos ricos com escudo, com policia y com prisiones, como diz Neruda. Por mais que a imagem anuncie um presente sem futuro, ela nos remete à mesma construção utópica de seus dias, talvez ensinando-nos mais claramente o caminho de las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir uma sociedad mejor. 


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