28 agosto 2017

XII Jornadas de Sociologia


XII Jornadas de Sociología - Facultad de Ciencias Sociales, UBA 

Terminou na sexta-feira passada as XII Jornadas de Sociologia, na Faculdade de Ciências Sociais da UBA, que a cada ano se consolida como espaço de reflexão e debates abertos à sociedade. Ao longo de três dias, foram 122 mesas distribuídas em 14 eixos temáticos, orientados pelo tema geral, Recorridos de una (in)disciplina, ou, de como os problemas, objetos, perspectivas presentes na práxis sociológica e que representam o horizonte de formação dos estudantes, possam produzir uma consciência crítica em relação à realidade social. 

Essa dinâmica articulada com a prática científica define o espaço da faculdade, permanentemente "tomado" pelas mais diversas correntes de pensamento estudantil. De pronto, ao se ingressar nesse território alimentado por ideias e tensões políticas, deparo com a saudável experiência do que seja um verdadeiro ambiente universitário. Ao longo dos corredores, escadarias, não escapa um metro sem a presença de cartazes anunciando mobilizações, encontros, caravanas, lutas, homenagens, palavras de ordem, de algum modo reiterando o registro simbólico do tema das Jornadas, ou seja, percursos de uma (in)disciplina.

De outra parte, as mesas e conferências exprimem um interessante contraponto a essas "indisciplinas juvenis", oferecendo um complemento teórico-metodológico por excelência, análises ricas que podem derivar, por exemplo, do conceito da distinção social ou do capital econômico em Pierre Bourdieu, ou das aplicações do pensamento sociológico de Émile Durkheim. As salas de aula transformam-se em focos de reflexão e análise de temáticas múltiplas, com os mais diversos objetos, oportunidade em que alunos e doutores trocam suas experiências do campo social.

Dessa maneira, foi possível dialogar com Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, mais uma vez eficiente em sua arguição sobre a importância da ação política dos diversos programas sociais aplicados nos governos Lula e Dilma, como também acompanhar os professores Néstor Kohan, Claudio Katz e Claudio Lara em uma discussão criteriosa das perspectivas da Teoria da Dependência de Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra e Theotônio dos Santos - desaparecida de nossas cátedras de Sociologia - nos desdobramentos da política latino-americana.


Minha participação se deu na mesa 74, La ciudad en disputa: actores, conflictos y dinámicas de producción del espacio urbano, que teve 18 apresentações de pesquisadores da Argentina, Chile e Brasil sobre os mais diversos temas relacionados aos conflitos e às resistências entre grupos socioeconômicos distintos, bem como os formatos e as práticas de mercantilização do espaço urbano, tão evidentes nas cidades latino-americanas. O texto que apresentei, Os descompassos de uma modernidade desigual: a política nas periferias de São Paulo, considerando os conflitos histórico-culturais da formação de nossa sociedade, teve como principal abordagem o comportamento político das periferias nas últimas eleições municipais.


Os cartazes presentes por toda parte 

Estar aqui significa a superação desse sentimento desconfortável que me toma de quando em quando. Basta refletir sobre os acontecimentos políticos que nos envolve nestes tempos, uma espécie de cinismo coletivo se estabelece, abrindo espaço para o oportunismo a qualquer preço e talvez mais do que isso, a ruptura de um paradigma moral de cuidado, de respeito ao adversário, para que um forte anseio competitivo se instale no tecido social, eliminando o constrangimento nas relações. Assim, não interessa a presença do adversário na constituição da democracia, mas sua criminalização como inimigo da nova ordem liberal. 

Nesse sentido, compreende-se perfeitamente o papel desses autores como Theodore Dalrymple, que despertam a indiferença e o desprezo sob a chancela da responsabilidade, colaborando para que cada um esteja livre de sentimentos generosos para seguir trilhando o caminho da liberdade individual, ou digamos, liberal. Atravessamos esse tempo de falsas ousadias que mobilizam o indivíduo, como um animal voraz, para a frente, em detrimento de todo o processo histórico-cultural da sociedade. Um tempo que só alimenta os hipotéticos desafios para preparar tecnicamente cada indivíduo para as oportunidades, onde a monetização dos valores contribui para se levar vantagem. 
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Das salas e dos corredores para o amplo salão de estar no térreo, ante-sala das Jornadas de Sociologia, que registra o ir e vir dos jovens, muitos deles acomodando-se nos sofás ou diante das mesas para estudos ou conversas mais descontraídas, sob o aroma convidativo do café com medialunas. Em um canto desse saguão, em frente a uma feira com livros de pequenas editoras, um imenso painel com a imagem de Rodolfo Walsh, jornalista e escritor assassinado pela ditadura militar em 1977. Suas obras e ideias repercutem fortemente junto aos jovens e irradia a força de um pensamento irrequieto, de desafio permanente ao autoritarismo de Estado. 


Mural com a imagem de Rodolfo Walsh 



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