Para falar com os mortos
(Jorge Teillier)
Para falar com os
mortos
há que escolher
palavras
que eles reconheçam
tão facilmente
como suas mãos
reconheciam a pelagem
de seus cães na escuridade.
Palavras claras e
tranquilas
como a água da
torrente domesticada na taça
ou as cadeiras
ordenadas pela mãe
depois que se foram
os convidados.
Palavras que a noite
acolha
como os pântanos aos
fogos fátuos
Para falar com os
mortos
há que saber
esperar:
eles são temerosos
como os primeiros passos
de uma criança
porém se tivermos
paciência
um dia nos
responderão
com uma folha de
álamo presa por um espelho partido
com uma chama de
súbito reanimada na lareira
com um regresso velado de pássaros
frente ao olhar de
uma mulher
que aguarda imóvel
em um umbral.
(Extraído e traduzido de Jorge Teillier: Poemas Secretos. In: Anales de la Universidad de Chile, julio-septiembre de 1965).
(Extraído e traduzido de Jorge Teillier: Poemas Secretos. In: Anales de la Universidad de Chile, julio-septiembre de 1965).
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