16 março 2017

Dia Nacional de Paralisação e Mobilização


por volta das 19h,  milhares reunidos


Ontem, provavelmente a mais grandiosa manifestação contra o desgoverno golpista de Temer. Pudemos sentir na pele a concentração espetacular, vinda de todos os lados da cidade, articulada por diversos sindicatos e movimentos, em nossos deslocamentos ao longo da avenida Paulista. Ao contrário de tantas outras em que participamos, a aglomeração de manifestantes começou antes das 16 horas, horário programado, e prolongou-se bem depois da fala de Lula, que ocorreu quando já passavam das 19 horas; a desmobilização do ponto de encontro, diante do Masp, foi lenta e dificultosa para os dois lados da avenida, lembrando-me o público dos grandes clássicos no Morumbi, nos anos 1970, quando se ultrapassava facilmente 100 mil pessoas. 


a chegada dos manifestantes, vindos da praça da República

Desta vez, diferente das manifestações anteriores, contribuiu muito a enorme concentração dos professores na República, no início da tarde, e que se deslocaria para a Paulista. Repentinamente, um mar de gente representando diversos coletivos e movimentos pela educação transbordavam feito a água que agora chega ao agreste nordestino, pela transposição do São Francisco, gente de todas as cores, de todos os gestos, chegando para ficar. 


presença das  professoras  aguerridas, sem perder a ternura

Se havia pela manhã a expectativa de paralisação dos serviços de transporte, à tarde ela se verificou parcial, permitindo que a mobilização para o encontro ocorresse sem problemas. Ao contrário das vezes anteriores, não concorreu um clima pesado pela presença ostensiva da polícia militar; desta feita, ela mal foi percebida em alguns cantos da avenida, e mesmo  seus helicópteros não surgiram com seus rasantes, para incomodar a massa.


quando possível, o esboço do gesto socialista

Contribuiu para o sucesso do evento a presença de dois enormes carros de som, um da Frente Brasil Popular, atravessado entre o Masp e o Trianon,  e o que veio da República, da Apeoesp, que chegou literalmente estremecendo a avenida com o cântico Fora Temer na versão Carmina Burana. Espetacular e poderoso, que arregimentava com emoção as pessoas que iam caminhando.  O tempo ajudou, se não fez sol, também não choveu, e se não estava quente e abafado, também não esfriou, pudemos avançar em meio a encontros com amigos; às nossas avaliações sobre o espectro político; ao registro contínuo em fotos e vídeos do crescimento da mobilização.


presença de centrais sindicais, mas não só

O tempo passou e a avenida se coloriu em tons vermelhos, com muitos balões indicando os partidos, centrais e sindicatos presentes. Nenhuma presença da mídia corporativa, o que não causou surpresa, ao contrário, reforçou a certeza de que nossa luta não se limita à preservação dos direitos trabalhistas, ou ao enfrentamento do posicionamento neoliberal privatista desse desgoverno, mas a uma pauta indispensável, a democratização dos meios de comunicação, que assumiram  às caladas, ao longo desse interminável processo golpista, uma postura de apoio inequívoco às ações de Temer e seus lacaios (permito-me recuperar este termo).


um mar de gente, a perder de vista

Até porque é fato que os lacaios de Temer se reuniram de modo conspirativo para vencerem as eleições de 2014, tanto na esfera majoritária (governo), quanto na esfera legislativa (congresso), o que explica ao menos parcialmente a força e a amplitude do movimento golpista. Os políticos misóginos de Brasília articularam-se com o dinheiro da Fiesp e com a boutade das mídias patronais para  o assalto ao poder. Uma vez lá instalados, não dão respostas às demandas sociais que sejam continuidade das praticadas no governo Lula e Dilma, e o que é pior, vendem a preço de banana nosso patrimônio, ameaçando com essa reforma trabalhista estapafúrdia.


um  Lula mais  incisivo  e direto

Lula demorou, mas chegou e falou, curto e grosso. Acaba tendo uma importante representação na luta, nesse enfrentamento desigual contra todas essas instâncias dominantes que esmagam nossos direitos. Pode parecer contraditório, mas delegamos nossa esperança a um homem que acertou em muitos atos, mas também errou em tantos outros, dentre eles, não ter mantido a proximidade com o movimento sindical, não ter realizado profundamente as reformas necessárias, como a agrária e a dos meios de comunicação. Aliou-se a grupos da casa grande, na esperança de uma governabilidade sem turbulências, e quando a conta veio, ela foi brutal, e todos estamos pagando. 

A Síria também é aqui, não aquela da demolição das estruturas físicas e morais, mas a da demolição do estado social. Lula tem essa força de galvanizar mobilizações e esperanças; de outra parte, nas palavras de Antonio Cândido, ele teria a estatura de um radical, aquele que propõe transformações sem deixar de contemporizar. Talvez, e apenas um talvez, será oportuno que retome neste seu final de vida a grandeza da ousadia de seus primeiros dias, e que possa contribuir para a consolidação de uma esquerda verdadeiramente unida e mobilizada.



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