Cunha
livre, Lula perseguido até ser preso e se podemos compreender os signos das
cartas marcadas, o quanto antes. Trata-se de uma ação promovida pelos seculares
interesses classistas, incorporados por procuradores embevecidos pelos quinze
minutos de sucesso que a mídia corporativa se dispõe a oferecer. Como se o
lamurio eugenista de um Nina Rodrigues ou Oliveira Viana ecoasse, determinando
a pouca capacidade mental e física dos mestiços. Nosso quintal brasileiro mais
uma vez sob o controle impune de mãos corruptas, brancas, machistas, não mais
que um punhado de farsantes da Casa Grande. As breves e ainda não consolidadas
conquistas de uma população secularmente abandonada, para estes feitores, devem
ser esconjuradas e em seguida eliminadas.
Esse
é o bom quintal, quieto e manso, administrado com competência, enquanto a
perene miséria da desigualdade social se perpetua. Lá está, no livro Casa
Grande e Senzala o registro de Gilberto Freyre: "Era uma dieta, a da Bahia
dos Vice-reis, com os seus fidalgos e burgueses ricos vestidos sempre de seda
de Gênova, de linhos e algodão da Holanda e da Inglaterra e até de tecidos de
ouro importados de Paris e de Lion; era uma dieta, a deles, em que na falta de
carne verde se abusava de peixe (...)". E quanto ao restante da população,
"surpreende pela má qualidade (nutricional): pela pobreza evidente de
proteínas de origem animal (...) pela falta de vitaminas, de cálcio e de outros
minerais (...)". É o que desejam como nosso direito, que sobrevivamos em
meio ao silêncio e à miséria.
Mas
há também uma outra opção, demarcada pelo não menos maravilhoso Graciliano
Ramos, quando se refere a Lampião: "Como somos diferentes dele! Perdemos a
coragem e perdemos a confiança que tínhamos em nós. Trememos diante dos
professores, diante dos chefes e diante dos jornais; e se professores, chefes e
jornais adoecem do fígado, não dormimos. Marcamos passo e depois ficamos em
posição de sentido". E mais adiante complementa, ao consolar-nos com a
ideia de que estão por aí outros Lampiões, e "quando descobrirmos o
Brasil, eles serão aproveitados". Contra os mantras da hipocrisia que se
atropelam vertiginosamente, a coragem de não nos conservarmos inúteis perante a
história.
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