18 setembro 2016

Sobre a Casa Grande e Lampião




Cunha livre, Lula perseguido até ser preso e se podemos compreender os signos das cartas marcadas, o quanto antes. Trata-se de uma ação promovida pelos seculares interesses classistas, incorporados por procuradores embevecidos pelos quinze minutos de sucesso que a mídia corporativa se dispõe a oferecer. Como se o lamurio eugenista de um Nina Rodrigues ou Oliveira Viana ecoasse, determinando a pouca capacidade mental e física dos mestiços. Nosso quintal brasileiro mais uma vez sob o controle impune de mãos corruptas, brancas, machistas, não mais que um punhado de farsantes da Casa Grande. As breves e ainda não consolidadas conquistas de uma população secularmente abandonada, para estes feitores, devem ser esconjuradas e em seguida eliminadas. 

Esse é o bom quintal, quieto e manso, administrado com competência, enquanto a perene miséria da desigualdade social se perpetua. Lá está, no livro Casa Grande e Senzala o registro de Gilberto Freyre: "Era uma dieta, a da Bahia dos Vice-reis, com os seus fidalgos e burgueses ricos vestidos sempre de seda de Gênova, de linhos e algodão da Holanda e da Inglaterra e até de tecidos de ouro importados de Paris e de Lion; era uma dieta, a deles, em que na falta de carne verde se abusava de peixe (...)". E quanto ao restante da população, "surpreende pela má qualidade (nutricional): pela pobreza evidente de proteínas de origem animal (...) pela falta de vitaminas, de cálcio e de outros minerais (...)". É o que desejam como nosso direito, que sobrevivamos em meio ao silêncio e à miséria.

Mas há também uma outra opção, demarcada pelo não menos maravilhoso Graciliano Ramos, quando se refere a Lampião: "Como somos diferentes dele! Perdemos a coragem e perdemos a confiança que tínhamos em nós. Trememos diante dos professores, diante dos chefes e diante dos jornais; e se professores, chefes e jornais adoecem do fígado, não dormimos. Marcamos passo e depois ficamos em posição de sentido". E mais adiante complementa, ao consolar-nos com a ideia de que estão por aí outros Lampiões, e "quando descobrirmos o Brasil, eles serão aproveitados". Contra os mantras da hipocrisia que se atropelam vertiginosamente, a coragem de não nos conservarmos inúteis perante a história.


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