02 setembro 2016

Manoel Bomfim

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Faz muito pouco tempo que entrei em contato com as ideias de Manoel Bomfim, não mais do que cinco anos. Foi mais ou menos na altura do relançamento de seu A América Latina - Males de origem, que passou a integrar minha biblioteca latino-americana. Fiz algumas consultas, lendo pequenos trechos, sem avançar na obra.

Foi neste semestre, graças a um texto de Antonio Cândido, Radicalismos, que retomei Bomfim. Na verdade, inclui o texto no plano de aulas da disciplina que leciono, Filosofia Ética e Contemporaneidade, e por fim me empenho em discutir com os alunos um pouco de suas ideias, como diz Cândido, tão impressionantes para sua época. A articulação de suas ideias é bastante avançada, em especial seu questionamento sobre as ideias então vigentes do pensamento evolucionista. Rechaça os argumentos de inferioridade atribuídos às populações de origem da América Latina - como os incas e aztecas - e aos negros, o malfadado conceito dos mestiços como raças degeneradas. 

O mais emocionante, e onde encontro forte identificação, é quando Bomfim fala da espoliação de nossas terras, "a conduta das grandes nações civilizadas para com os povos fracos, estabelecidos em territórios férteis, tem sido uma só, única e invariável: agredi-los, tiranizá-los, ou destruí-los quando não é possível reduzi-los a colonos dóceis", argumento bastante contemporâneo, que poderíamos associar ao conceito da dependência defendido pelos 'próceres da privatização', Fernando Henrique Cardoso e José Serra. 

Para Antonio Cândido, Manoel Bomfim chega ao limite do que considera ser um radical. Conforme o texto, Bomfim tinha consciência profunda sobre "a marginalização do povo, o perigo imperialista, a mentalidade espoliadora em relação ao trabalho, visto como prolongamento da escravidão", ou seja, ela sabia das condições miseráveis da população, da ameaça dos países mais poderosos (imperialistas) às riquezas do Brasil e a exploração do trabalho escravo pelas elites. 

Toda essa consciência, na compreensão de Antonio Cândido, permitiria que Bomfim avançasse em suas ideias, agindo não só apenas como um intelectual radical, mas como um revolucionário. Mas, como vemos no texto, "as conseqüências revolucionárias se atenuaram em benefício de uma visão ilustrada, segundo a qual a instrução seria remédio suficiente para redimir as massas". Ou seja, o radicalismo de Bomfim não teve consequências na prática, ficou apenas descrito em seus textos, acreditando que as massas poderiam se influenciar e se mobilizar a partir de suas ideias.

Manoel Bomfim não era propriamente 'um excluído', tinha formação eclética, sofisticada, e atuava também como médico. Mas teve a sensibilidade de perceber a realidade de seu povo, tal como Joaquim Nabuco, outra das personagens brilhantemente analisadas por Cândido em seu texto, da qual falarei em outra ocasião.


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