Faz muito pouco tempo que entrei em
contato com as ideias de Manoel Bomfim, não mais do que cinco anos. Foi mais ou
menos na altura do relançamento de seu A América Latina - Males de
origem, que passou a integrar minha biblioteca latino-americana. Fiz
algumas consultas, lendo pequenos trechos, sem avançar na obra.
Foi neste semestre, graças a um texto
de Antonio Cândido, Radicalismos, que retomei Bomfim. Na
verdade, inclui o texto no plano de aulas da disciplina que leciono, Filosofia
Ética e Contemporaneidade, e por fim me empenho em discutir com os alunos um
pouco de suas ideias, como diz Cândido, tão impressionantes para sua época. A
articulação de suas ideias é bastante avançada, em especial seu questionamento
sobre as ideias então vigentes do pensamento evolucionista. Rechaça os
argumentos de inferioridade atribuídos às populações de origem da América
Latina - como os incas e aztecas - e aos negros, o malfadado conceito dos
mestiços como raças degeneradas.
O mais emocionante, e onde encontro
forte identificação, é quando Bomfim fala da espoliação de nossas terras, "a
conduta das grandes nações civilizadas para com os povos fracos, estabelecidos
em territórios férteis, tem sido uma só, única e invariável: agredi-los,
tiranizá-los, ou destruí-los quando não é possível reduzi-los a colonos
dóceis", argumento bastante contemporâneo, que poderíamos associar ao
conceito da dependência defendido pelos 'próceres da privatização', Fernando
Henrique Cardoso e José Serra.
Para Antonio
Cândido, Manoel Bomfim chega ao limite do que considera ser um
radical. Conforme o texto, Bomfim tinha consciência profunda
sobre "a marginalização do povo, o perigo imperialista, a mentalidade
espoliadora em relação ao trabalho, visto como prolongamento da
escravidão", ou seja, ela sabia das condições miseráveis da população, da
ameaça dos países mais poderosos (imperialistas) às riquezas do Brasil e a
exploração do trabalho escravo pelas elites.
Toda essa consciência, na compreensão
de Antonio Cândido, permitiria que Bomfim avançasse em suas ideias, agindo não
só apenas como um intelectual radical, mas como um revolucionário. Mas,
como vemos no texto, "as conseqüências revolucionárias se atenuaram em
benefício de uma visão ilustrada, segundo a qual a instrução seria
remédio suficiente para redimir as massas". Ou seja, o radicalismo de Bomfim não
teve consequências na prática, ficou apenas descrito em seus textos,
acreditando que as massas poderiam se influenciar e se mobilizar a partir de
suas ideias.
Manoel Bomfim não era propriamente 'um excluído', tinha formação eclética, sofisticada, e atuava também
como médico. Mas teve a sensibilidade de perceber a realidade de seu povo, tal
como Joaquim Nabuco, outra das personagens brilhantemente analisadas por
Cândido em seu texto, da qual falarei em outra ocasião.
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