A
poucas horas do início da Copa, se não há ainda um clima fervoroso como
normalmente se vê neste evento, é porque o brasileiro está mais atento aos
acontecimentos. Em outra palavra, ainda que de modo diverso, se posiciona de
modo mais crítico, rejeitando aceitar o ludíbrio artificial, mercadológico,
falsamente ufanista, orquestrado pelas grandes corporações que negociam o
espetáculo. Não vejo desânimo, mas sim um olhar natural de espera, e que no
devido momento, se envolverá com a devida intensidade.
Curiosamente
não podemos contar com os grandes veículos de comunicação deste país para nos
informarmos a respeito. Criou-se uma leitura deturpada dos gastos, um alardear
insensível sobre meias verdades que se transformaram em pontas de lança para o
questionamento do evento, visando o descrédito do governo. Um imenso
desserviço, que não teve outro propósito senão alimentar interesses
corporativos, em detrimento de uma análise justa e construtiva.
Foi
um estranho período de notícias insufladas por efeitos bombásticos, que
repetidas com regularidade, tornaram-se mantras dos desavisados. Os veículos
hegemônicos mostraram a cara de sua insensatez ao revelarem, para o espírito
crítico, o malogro de seu discurso. Pois o malogro do seu discurso ocorre por
uma razão simples, não pretende adesão ao corpo social, mas inspirá-lo com
desprezo. Em duas linhas, a divulgação da notícia se estrutura a partir da
negação das virtudes e do realce dos problemas. Todo fato social tem seus
pontos falhos e estes devem ser privilegiados, sem tréguas. Na pós-modernidade
uma elaboração inventiva do fato não é mais questionada, mas relativizada, isso
pela própria natureza do ritmo veloz de nosso cotidiano.
Ou seja, não há tempo para se deter na análise das nuanças do discurso, logo outro mais ou menos elaborado se deriva do primeiro e ocupa o seu lugar, e temos a tecedura de outra verdade, menos relevante e mais apropriada. O propósito desse processo é aprofundar o mal-estar social, disseminando impressões incorretas que sensibilizam o imaginário da opinião pública, tornando-a suscetível ao sentimento que se pretende alcançar, o desprezo, a intolerância.
Trata-se
de uma articulação meticulosa, que avança e envenena aos bocados, sem mostrar
os rastros e sem evidenciar os objetivos. Ao final das contas, o importante é
inocular o sentimento de rechaço ao evento, instaurando dúvidas que permitam a
exploração seriada, criminalizando o agente empreendedor, o governo
trabalhista.
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Observo,
confiante, que se trata de um discurso que embora nos alcance, não mais nos
convence. É capaz de, à la
longue, forçar uma leitura equivocada, que em absoluto se acomoda como uma
compreensão abrangente da realidade. A deturpação dos fatos não resiste ao
contraponto sério e objetivo dos que estão, efetivamente, comprometidos com a
verdade factual. E essa não me parece uma responsabilidade restrita apenas aos
jornalistas e comunicadores sociais.
Seja
como for, em tempos de acesso crescente às múltiplas plataformas digitais,
encontramos modos de recuperarmos a capacidade da análise crítica sobre os
fatos, descartando a desinformação frívola que distorce nossos legítimos anseios
sociais para privilegiar os interesses corporativos.
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