O presidente deposto João Goulart |
A aula indicava apenas que eu cumpriria o programa do bimestre,
apresentando uma discussão sobre o governo João Goulart para uma classe muito
interessada com os temas das Teorias Sociais. Desde o início, o acompanhamento
dos educandos gerou um processo estimulante, de atenção e participação. Pudemos
avançar decididos em temas desde o Brasil Colônia, com Caio Prado Jr., até a
Cultura Caipira, com Antonio Candido. Sempre um prazer pode-los encontrar
dispostos a desvendar os caminhos complexos de nossa história, de nossa
formação. Ao longo de dois meses avançamos, educador e educandos, até chegarmos
ao cenário do golpe de 1964.
Para minha surpresa, a melhor aula com esta turma. Ocupamos a manhã em torno das imagens, das primeiras páginas dos jornais e revistas da época, dos atores, das nuanças das histórias que se completaram com o triste desfecho, o fim do Brasil voltado para as Reformas Sociais. Por mais que desconhecessem os detalhes, foram incorporando a discussão com um desprendimento comovedor. Sabiam que compartilhávamos os sinuosos percursos de um momento-chave de nosso país, momento que por sua dimensão e força por certo interferiu na realidade familiar de cada um deles. Essa recuperação silenciosa da história social e familiar por certo os conduziu em densa expectativa até o final da aula.
...
Especificamente sobre o tema, não há nada mais doloroso do que a consciência de um Brasil que foi bruscamente interrompido nesse golpe indecente, que cassou a inteligência brasileira, rompeu o que Darcy Ribeiro chama de 'nosso processo de auto edificação', nos dobrou aos interesses forâneos e arrancou o direito de sonharmos com nossos desígnios, a partir de nossas escolhas soberanas. O livro de Jorge Ferreira, João Goulart, dentre outras publicações sobre o período que chegam a lume, nos oferece um excelente olhar retrospectivo para esse momento decisivo de nossa história.
Abaixo transcrevo um trecho, na manhã do dia 2 de abril de 1964, que oferece boa resposta a uma das indagações feitas por um dos alunos, 'por que Jango abandonou o governo?'
Para minha surpresa, a melhor aula com esta turma. Ocupamos a manhã em torno das imagens, das primeiras páginas dos jornais e revistas da época, dos atores, das nuanças das histórias que se completaram com o triste desfecho, o fim do Brasil voltado para as Reformas Sociais. Por mais que desconhecessem os detalhes, foram incorporando a discussão com um desprendimento comovedor. Sabiam que compartilhávamos os sinuosos percursos de um momento-chave de nosso país, momento que por sua dimensão e força por certo interferiu na realidade familiar de cada um deles. Essa recuperação silenciosa da história social e familiar por certo os conduziu em densa expectativa até o final da aula.
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Especificamente sobre o tema, não há nada mais doloroso do que a consciência de um Brasil que foi bruscamente interrompido nesse golpe indecente, que cassou a inteligência brasileira, rompeu o que Darcy Ribeiro chama de 'nosso processo de auto edificação', nos dobrou aos interesses forâneos e arrancou o direito de sonharmos com nossos desígnios, a partir de nossas escolhas soberanas. O livro de Jorge Ferreira, João Goulart, dentre outras publicações sobre o período que chegam a lume, nos oferece um excelente olhar retrospectivo para esse momento decisivo de nossa história.
Abaixo transcrevo um trecho, na manhã do dia 2 de abril de 1964, que oferece boa resposta a uma das indagações feitas por um dos alunos, 'por que Jango abandonou o governo?'
"(...) A tentativa de resistência, disseram os militares
(legalistas), seria sufocada em poucos dias. Goulart avaliou a situação
militar, percebeu o risco praticamente certo de guerra civil e já possuía
informações sobre as articulações norte-americanas no golpe. Não se tratava
apenas de um movimento militar, mas, sim, de uma ampla coalizão civil-militar
brasileira com o apoio de forças estrangeiras. O presidente, depois de pesar a
disposição de forças, não aceitou a proposta de resistir. A resistência jogaria
o país em uma guerra civil de consequências imprevisíveis, foi a sua avaliação.
(...) Jango, naquele momento, sabia da amplitude do golpe que o estava depondo.
Apoiando as forças armadas estavam os presidentes dos poderes Legislativo e
Judiciário, bem como os governadores dos estados mais importantes do país,
Guanabara, São Paulo, Minas Gerais (...). A imprensa e os meios de comunicação
não apenas apoiavam, mas também incentivavam o golpe. Não se tratava só do
apoio de empresários e latifundiários, mas de amplas parcelas das classes
médias. (...)"
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