31 dezembro 2011

A crise infindável (2)




Há exatos dez anos, encontrei com um pequeno grupo de jovens argentinos, em um albergue na Europa, e pude acompanhar o desespero e as lágrimas que os envolvia. As informações que recebíamos da crise política e econômica que varria a Argentina eram por demais devastadoras para se acreditar, e uma vez acreditando, difíceis demais para serem absorvidas. Lembro-me em especial do casal Mercedes e Daniel, que à deriva, já não tinham certeza do regresso à pátria, na semana seguinte.
...


Dolorosos momentos, paulatinamente superados com coragem política e com firmeza na arrumação econômica, pelos governos de Néstor e Cristina Kirchner. Sem seguir a cartilha liberal, hoje o país é um dos polos de desenvolvimento no continente, com a expectativa de crescimento em torno de 8%. Em contrapartida, o desconsolo se acerca da velha Europa, nuvens e sombras despontam em um horizonte pouco promissor. Grécia, Espanha, Portugal, Itália estão na berlinda, antecipam as mudanças políticas, reafirmam os ajustes liberais, restringem ainda mais o Estado do bem estar social, vislumbram perspectivas de instabilidade social... 
...


Também me lembro que, poucos dias após esse encontro com os argentinos, já em um albergue em Berlim, comemorávamos entre brasileiros a passagem do ano novo (2002). Na manhã seguinte, sacava-se nos caixas eletrônicos bilhetes de euro no lugar de marco. A Europa entrava em uma nova etapa da integração, desta feita monetária. Acreditava-se, enfim, que o bloco econômico ganharia força e robustez, competindo com a Alca e, bem, dez anos depois, sobrevém a crise econômica, recessão, desemprego, incertezas em relação ao futuro. Nós, os vira-latas latinos, que éramos estimulados a olhar o velho continente (e os países industriais no todo) como o exemplo de civilização a ser seguido, bueno, seguimos consolidando uma década de políticas econômicas mais integradas, que nos traz esperanças de anos de crescimento sustentado.
...


Falo de crescimento sustentado porque ele não se pauta na dinâmica dos interesses de mercado, mas na recomposição da dimensão humana. O crescimento reverte-se prioritariamente em desenvolvimento social, da Venezuela à Argentina, do Peru e Bolívia ao Brasil. A vida não se limita ao bem estar dos escritórios e gabinetes, mas à fortuna da  sociedade como um todo. Com a CELAC, organismo recentemente criado para a integração mais efetiva dos países latino-americanos e do Caribe, surge a oportunidade de avançarmos com nossas próprias pernas, a partir de nossos interesses, em paz. 
E isso não é pouco.
...


Feliz 2012 a todos!  



Nenhum comentário: