10 agosto 2010

Agonias de um passado (2)



Estamos dia após dia vivendo em uma fornalha cada vez mais aquecida, hoje tivemos mais de 37o.C, um sol causticante, um calor que não estimula a caminhar pelas ruas. Prossigo olhando para minhas tarefas urgentes e não consigo concentrar-me para adiantá-las. Pergunto-me a cada dia se trabalho com um cadáver que não me trará qualquer benefício... E por cima, essa crise pestilenta, que os entendidos atribuem às reformas não feitas. Então (os desdobramentos da tragédia), o mercado que passa a desacreditar na saúde da economia do país, que leva os investidores/especuladores a baterem suas asinhas para longe, e que acarreta na classificação de país sem credibilidade... E por aí vai, a loucura diária das bolsas e a tensão no congresso pela votação de mais impostos e contribuições. 

O dólar que não para de se valorizar, a saída (sangria) de divisas que não estanca, as montadoras no pique declarando demissões e aumentando os preços dos automóveis, FHC aparecendo sorridente e dizendo que 'não irá permitir'... (...) um presidente inepto, com uma base política corrupta e oportunista, como acreditar em verdadeiras reformas? Há muita informação cruel sendo empurrada para baixo do tapete, em prol da necessidade em se estabilizar a economia. Clóvis Rossi apenas tocou no ponto nevrálgico ao alinhavar crises que chegaram e quebraram economias tão distintas, e que pouco antes eram louvadas como exemplos pela mídia internacional. E conclui: 'Aí, de duas uma: ou pouca gente entende alguma coisa de economia ou há algo de fenomenalmente errado com o jogo econômico global, a ponto de levar para o buraco países tão diferentes em quase tudo e de gerar uma crise após a outra'.

Talvez esse calor infernal seja o terrível prenúncio de que este ano será um sufoco. Sofremos muito ao longo desses meses, sem muitas esperanças. Cortes, ajustes, enxugamento, impostos novos, loucura esses tempos neoliberais. Claro, para nós da periferia, porque os donos do cassino batem recordes seguidos de produtividade, onde os sorrisos tornam-se manifestação de escárnio. Eles não precisam mais brandir o big stick para nosotros, pois estamos mais do que nunca de joelhos.
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(in Diários, quinta-feira, 21 de janeiro de 1999)



Um comentário:

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