A luminosidade noturna de Zagreb, 1989 |
Penso que a consciência da finitude, com o fim escancarado diante de nós, expõe toda a instabilidade do ser, e arregimenta os demais seres ao redor; é um mistério esse fracasso que sobrevém e se revela para o indivíduo, para cada qual em etapas distintas da vida, convencendo-nos, afinal, sobre a efemeridade. Há duas maneiras de encararmos os fatos: pode ser uma descida calma aos confins do nada, ou pode ser um espernear vulgar e dramático até o nada nos abraçar. Vejo o pobre senhor Blixten resistindo bravamente, enquanto perde suas forças vitais, cedendo vez aos braços que desejam ampará-lo, amenizando a irreversibilidade do fim.
Há vida, ainda que o fim sobrevoe delicadamente, e chegará um momento que a vida se fundirá com o silêncio do intangível, tal como anuncia Neruda em seu verso sobre a magnólia desatada na espuma, que eternamente volta a ser e a não ser nada. De pouca valia será persistir no desatino ou nas fragrâncias da magnólia desatada. Será a vez do vale misterioso, a vez da finitude atravessada pelo infinito, o esboço que não mais se manifesta, a síntese do grão e do espaço absoluto.
(atualizado, 08.02.2024, 9h)
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