09 janeiro 2024

Terra Devastada, a peça (3)


Tal Alzatar não se rendeu, Ismail Shimmout

Já está em edição meu texto dramatúrgico, Terra Devastada, que sai até o final deste mês, pela editora Caravana. Os duros enfrentamentos que persistem em Gaza há mais de três meses, com a morte de mais de 20.000 palestinos, faz de minha peça um inesperado libelo contra a violência desatada pelas FDI. Cerca de 9.000 crianças, uma a cada dez minutos, segundo a ONU, foram assassinadas até aqui, mais crianças nestes 90 dias em Gaza, território de 365 quilômetros quadrados, do que em 700 dias na Ucrânia, sob a mais completa indiferença dos líderes da União Europeia e dos EUA. 

Os sionistas se movem com toda a liberdade de ação, e cometem toda espécie de brutalidade no território palestino. Minha peça é anterior a todo esse despautério do governo israelense. Começou a ser escrita há 40 anos e aborda os eventos de Sabra e Chatila, e mais tarde as ofensivas aéreas da Operação Margem Protetora. A ação dramática de Terra Devastada é um passeio no parque diante das atrocidades verificadas nestes dias. Minha intenção foi considerar com leveza e seriedade o ponto de vista palestino, e me parece que o resultado final da peça é bastante satisfatório. 

As informações midiáticas sobre as operações israelenses, na maioria dos casos, é patética, parcial e muito distante do que de fato ocorre. Em outras palavras, discute-se o alcance das operações militares e seus possíveis objetivos, como se fosse um jogo de diplomacia da Grow, sem se considerar a tragédia humanitária que afeta mais de dois milhões de pessoas. Um horror tão completo, que mais parece um entretenimento virtual de destruição e morte. Um game em tempo real, com alvos reais. Nada detém a máquina de destruição de Netanyahu, simples assim. 

A imagem acima, de Ismail Shimmout, ilustra a capa de meu livro. Não consegui o prefácio que desejava, ainda que consultas tenham sido feitas com mais de um autor. As negativas não surgiram por receio ou divergências políticas, mas pelos inúmeros compromissos profissionais nessa época do ano, que impossibilitaram um texto de apresentação mais criteriosa sobre a minha peça. O volume termina com uma nota do autor, uma rápida análise da conjuntura política atual. Talvez tenha sido melhor desse jeito. Um sentimento de satisfação e dever cumprido me envolve calidamente ao ver este trabalho finalmente concluído.  


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