O massacre em Gaza continua |
Dois dias corrigindo um conto, Café Bohemia, que integra o meu próximo livro, Cenas que se diluem com o tempo. Texto rápido, que se sustenta em uma apresentação do Jazz Messengers, de Art Blakey. No ambiente aparentemente normal do café, surge um ruído que atravessa a gravação, um casal que se manifesta um pouco acima do tom moderado e suas falas são parcialmente capturadas. O problema todo resumiu-se no tratamento desse episódio, que corre paralelo com a execução da música Alone Together, e ao saxofone de Hank Mobley.
O limite era o espaço da lauda, como se fosse um exercício de criação resumido em trinta linhas. E ocorreram hipóteses de desdobramento: e se o diálogo ríspido se expandisse para a caracterização mais detalhada do casal, o mal-estar propiciado por dado motivo que, sendo revelado aos poucos, trariam mais luz à vida deles. Logo me pareceu um tema excitante, mas que demandaria pesquisa e algum tempo para esboçar a personalidade e o mundo do homem e da mulher.
Um conto de pelo menos dez laudas, cujo desfecho ficaria em aberto. A narrativa manteve-se restrita a uma efêmera lauda, realçando os gestos, a sonoridade, cada frase, cada linha. Vejo o quão difícil é insinuar uma situação, em vez de descrevê-la em suas minúcias. O que, no início, elaborava-se como descrição de uma boa crônica situada no Café Bohemia, culminou em uma graça ligeira, de duvidosa qualidade.
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Amanhã, toma posse Javier 'Motosserra' Milei, um desses tantos políticos medíocres de direita, que surgiram para prometer o fim da casta política, o fim do banco central, o fim da moeda argentina - e a consequente dolarização da economia, o fim do Estado como provedor de políticas públicas, e que, ao final das contas, preserva quase tudo e sinaliza o tamanho imenso da incógnita que vem pela frente. O ajuste econômico será forte, não se sabe ainda o alcance dos cortes, da eliminação dos subsídios.
Não se sabe por onde deverá se orientar seu governo - até aqui, mostra-se pateticamente atrelado a figuras nefastas como Macri e Bulrich, preenchendo os cargos de acordo com nomes conhecidos e pouco alentadores, como o ministro da defesa, Luis Petri, ou o diretor do banco Central, Santiago Bausili, amigo de Toto Caputo, o futuro ministro da economia que já havia ocupado o mesmo cargo na gestão Macri.
Bausili respondia um processo na justiça (já cancelado), por delito de "negociações incompatíveis com o exercício da função pública". Ou seja, continuidade das políticas de favorecimento das corporações, e nenhuma grande expectativa a não ser ajustes tarifários e arrochos salariais para a grande massa. Se ela desejava mudanças radicais ao votar em Milei, terá mais do mesmo, e da pior qualidade.
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Chegamos à postagem 800 deste blog, em pouco mais de 15 anos de atividade ininterrupta! Sem dúvida, uma agradável surpresa e uma enorme alegria! Mas principalmente uma conquista, com um trabalho contínuo, cuidadoso, que nos anima a prosseguir em frente, com o maior carinho e dedicação.
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