E o blog Chá nas Montanhas alcança
sua seiscentésima postagem, um pouco antes de comemorar onze anos ininterruptos de
publicações. Jamais imaginei lá no início que chegaria tão longe. As
dificuldades de se postar regularmente são superadas pelo prazer e quase
necessidade de publicar as impressões pessoais a respeito do mundo que nos
cerca, dos acontecimentos sociais e dos eventos pessoais, das lembranças
recuperadas, do futuro como perspectiva imediata. A vivência cotidiana não
cessa de alimentar a alma e o fígado, quase que solicitando algum tipo de análise.
Descrever os fatos a partir de minha
compreensão de mundo tem sido um exercício indispensável, por muitas vezes este
espaço foi o canal solitário de minha voz, de como absorvia os golpes
políticos, de como exultava as conquistas pessoais ou coletivas. Também foi
aqui que pude comemorar a memória de pessoas e circunstâncias muito especiais, que dizem respeito a minha maneira de ser no mundo.
Esses anos foram de transformação pessoal, de aprendizado social, de paixão e de desprezo, e o que poderia se tornar uma prática paralela ao desenvolvimento formal e acadêmico, muitas vezes mostrou-se um canal exposições exaltadas em nome de um princípio, de formas inacabadas de insurgência política.
Lembro que bem no comecinho constava
no subtítulo do blog um convite para me acompanhar no desfrute do chá nas
montanhas e um visitante casual indagou, de modo polido, como seria possível
algum degustar um chá numa mesa diante de exposições tão pouco amistosas? Foi o sinal para buscar uma elaboração mais propositiva, ainda que preservando o argumento contundente.
Com o passar do tempo foi possível desenvolver um estilo e dessa maneira, espero ter despertado o desejo pela reflexão, sem omitir a indignação. Por vezes precisei retomar o texto para equilibrar a força assertiva da narrativa, que parecia perder a mão sensível, mas de modo geral foi possível manter o vigor original das palavras.
Escrever "ao vivo", ao
sabor dos fatos, sempre me pareceu o mais desafiador dos exercícios desta
escritura. E assim, na expectativa de construir modos de ver e de pensar, pude
avançar tanto e seguir com o compromisso de pautar minhas percepções, dando
vazão a sentimentos tão distintos quanto genuínos.
Que possamos seguir por aqui, juntos, por muito mais tempo, caro leitor.
Que possamos seguir por aqui, juntos, por muito mais tempo, caro leitor.