23 maio 2019

Caminhos sartreanos da liberdade

O lançamento marcado para a semana que vem tem um gosto muito especial, pois reapresenta um livro que me acompanha faz mais de vinte anos. Quando publicado aos trancos e barrancos em março de 1997, conseguiu um sobrevoo interessante, sendo resenhado pelo Caderno Mais!, uma referência no mundo das letras na época. Foi um tempo de muita influência da fenomenologia existencialista, que acabou permeando o conteúdo dos contos.

Mas o livro possuía falhas, foi apressadamente organizado e lançado, sabia que precisava retomá-lo. Em 2006 a oportunidade surgiu quando o submeti ao cobiçado prêmio Cidade de Belo Horizonte. Ele ganhou em sua categoria, mas não levou, pois a comissão declarou a obra não inédita. Eu tinha mantido o título, modificando seu conteúdo e incorporando 7 contos aos 12 originais, mas não foi suficiente.

O livro continuou me acompanhando, precisava dar-lhe um substrato definitivo, consolidando-o como minha obra primeva. Ela haveria de encontrar a luz do fim desse túnel de indefinições e aconteceu no começo deste ano, com o Eduardo Lacerda da editora Patuá. Tudo foi surpreendente, da entrega dos originais, sua leitura e aprovação, a organização de capa e miolo, minha revisão e a edição, pouco mais de cinco meses. Trabalho competente, bonito, bem-acabado. 

Agora sim, posso me lançar à finalização dos outros textos que estão na fila. Encontro, por fim, a oportunidade de encaminhar minha produção literária, com A Paixão Inútil puxando a fila. O momento político me abre a brecha para pensar e encontrar os amigos falando de novos temas, como a literatura. Dia primeiro de junho encontrarei muitas pessoas com essa disposição.

Abaixo, a apresentação que escrevi para o livro.

A primeira versão de A Paixão Inútil, publicada em março de 1997, reunia doze contos sem títulos. Aproximadamente três meses depois do lançamento, a obra mereceu simpática resenha do jornalista e escritor Bernardo Ajzenberg, no Caderno Mais da Folha de São Paulo, intitulada Sob o véu da melancolia. Ao final vinculava o estilo a “uma linhagem de espécie existencialista” em razão das narrativas abordarem aspectos clássicos do existencialismo como a angústia, a má-fé, a liberdade.

A meu ver temos um elemento crucial que percorre a coletânea, a ação sem um fim projetado que conduz inevitavelmente ao conservadorismo, ao quietismo e consequentemente a uma postura retrógrada. Os personagens giram em torno de suas escolhas protelatórias, a um passo da metafísica falaciosa do dia-a-dia que impede o homem de refletir por si mesmo em completa liberdade.

Das dezessete histórias que compõem esta edição, a maioria foi pensada e escrita no contexto dos anos 1980 e 1990. Duas são mais recentes, Um rosto na multidão (2003) e O senhor Virgílio (2018), incluídas em razão de sua proximidade temática com o conjunto original de textos. Quanto às histórias antigas, realizei modificações necessárias na evolução das tramas sem alterar a estrutura narrativa, além de restabelecer os títulos originais dos contos.



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