09 maio 2019

Allende: socialismo con olor a empanadas y vino tinto




Retorno ao tema Allende e Unidade Popular ao apresentar no III Simpósio de Comunicação e História Oral da USCS o tema "El Socialismo con olor a empanadas y vino tinto: memórias radiofônicas da derrubada de Salvador Allende", juntamente com minha companheira de escrita e de coração Mônica Nunes. E sempre que abordo esse complexo assunto, encontro novos caminhos para a pesquisa, agregando novas fontes para consultas.

Desta vez, tomamos como referência o sítio Sintoniza con la Memoria, organizado pelo Museo de La Memoria y los Derechos Humanos de Chile, onde se disponibiliza publicamente a cronologia do brutal 13 de setembro de 1973, por ocasião do golpe de Estado cívico-militar conduzido por Pinochet. A dramaticidade dos fatos é descrita a partir dos relatos radiofônicos contendo as locuções de Allende, pelo comando militar, pelos repórteres que cobriam o desenrolar dos acontecimentos nas cercanias do palácio de La Moneda, intermeados por músicas marciais.

Nossa fala se constituiu em três partes: uma apresentação do contexto histórico do período da Unidade Popular, conjunto de partidos de esquerda que lançaram Salvador Allende como candidato à presidência do Chile, em setembro de 1970. Sua vitória foi marcada, desde o princípio, pela movimentação golpista, interna e externa (Departamento de Estado e CIA), que procura interditar sua posse. Como pediu Nixon ao diretor da CIA Richard Helms em 15 de setembro de 1970, "gaste pesado, trabalhe a tempo integral, faça chiar de dor a economia chilena".

Em seguida um breve registro dos áudios de Allende, do ultimato militar, da cobertura dos bombardeios aéreos contra La Moneda e um trecho da proclamação da junta militar. Do primeiro ao derradeiro registro radial, dez horas de violência constitucional. 

Por fim, a abordagem da trama sígnica e sonora tornada memória social, que revela-se política. Um tenso campo de disputas de sentidos a partir dos discursos e representações sonoras do último dia do socialismo democrático no Chile. Como escreve Mônica, "Quem fala o quê? Quem pode falar? Quem se cala sob o efeito do discurso autoritário da junta militar? Estas memórias radiofônicas põem intensidades diferentes em cada emissão vocal com seus timbres, acentos e tons próprios; significam-nas como lugares simbólicos e de luta".

Sobreviver por longos 3 anos, submetida a toda espécie de covert actions foi uma epopeia da Unidade Popular. Ao final, Salvador Allende se vê cercado e assediado no palácio presidencial, isolado politicamente, apoiado por um punhado de companheiros que integravam o GAP, grupo de apoio ao presidente. Sustentou uma luta desigual por cinco horas, em que os Hawker Hunter foram finalmente decisivos. Nunca uma fala foi tão sinteticamente macabra como o comentário final do general golpista Javier Palácios, "missão cumprida, La Moneda tomada, Allende morto".




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