Ipuã, 1983
Continuarei batendo na mesma tecla, nosso infortúnio foi cavado
pela grande parcela da população com conhecimento restrito de nossa formação
histórica, alimentada por uma crônica e longeva desinformação midiática dos acontecimentos
cotidianos. Cada vez mais habituada ao desinteresse das questões estratégicas
da vida social, privilegia-se com crescente interesse a luta pela
sobrevivência, como sendo a única razão para a obtenção de sucesso. O indivíduo
engalfinha-se, assim, em uma luta sem fim, reproduzindo os interesses de uma
casta social que controla os meios de produção privados e especula no mercado
financeiro, turbinando seus lucros. O que se trava agora é uma luta difícil
para a sociedade civil, a manutenção dos direitos previdenciários, sem os quais
a barbárie estará convenientemente instalada.
Como disse, somos responsáveis por esse estado de coisas pela
ignorância, pela absoluta comodidade em não questionar, nem sequer apurar de
maneira crítica a crescente diluição do Estado democrático de direito. Não
fazemos a menor ideia do perigo que representam os novos donos do poder e esse
drama parece também diluir-se em meio aos nossos afazeres diários, dolorosos e
inconsequentes por não apresentar, no futuro, qualquer possibilidade de
redenção. Deixamos paulatinamente a angústia que o conhecimento proporciona,
para nos abandonarmos às delícias oferecidas pelo consumo de bens
tecnológicos. Somos pautados pelo desejo de possuir um IPod Touch 6[i],
materialidade sedutora, e pelas janelas de entretenimento que ele proporciona,
sejam os games sofisticados, os vídeos encantados, os entretenimentos
esportivos.
Podemos também montar nossas páginas no Instagram ou no
Facebook, compartilhar as fotos de nossos entornos familiares e as imagens de
nossas férias. Podemos, por fim, e não que seja o limite das possibilidades,
criar e replicar memes e com uma mensagem despudoradamente racista e transmitir
acreditando que seja uma mensagem edificante, calcada nos verdadeiros princípios
da tradição cristã. Sem qualquer preocupação, somos transformados em
instrumentos da diluição social, em sintonia com uma nova ordem obscura, que
nos faz penetrar fundo na escuridão de uma caverna fria e desconhecida.
À medida que adentramos a caverna nos distanciamos de nosso mundo real, submetidos à percepção de um mundo feito de ilusões. Tudo está por se refazer, com base em uma verdade reconstruída diariamente, em função das necessidades individuais de cada um. Quem nos alimenta com verdades é esse Grande Irmão ideológico que já conhecíamos desde Orwell, hoje multiplicado pelo fascínio irresistível das tecnologias de informação.
À medida que adentramos a caverna nos distanciamos de nosso mundo real, submetidos à percepção de um mundo feito de ilusões. Tudo está por se refazer, com base em uma verdade reconstruída diariamente, em função das necessidades individuais de cada um. Quem nos alimenta com verdades é esse Grande Irmão ideológico que já conhecíamos desde Orwell, hoje multiplicado pelo fascínio irresistível das tecnologias de informação.
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