01 abril 2019

Instrumentos da diluição social

Ipuã, 1983

Continuarei batendo na mesma tecla, nosso infortúnio foi cavado pela grande parcela da população com conhecimento restrito de nossa formação histórica, alimentada por uma crônica e longeva desinformação midiática dos acontecimentos cotidianos. Cada vez mais habituada ao desinteresse das questões estratégicas da vida social, privilegia-se com crescente interesse a luta pela sobrevivência, como sendo a única razão para a obtenção de sucesso. O indivíduo engalfinha-se, assim, em uma luta sem fim, reproduzindo os interesses de uma casta social que controla os meios de produção privados e especula no mercado financeiro, turbinando seus lucros. O que se trava agora é uma luta difícil para a sociedade civil, a manutenção dos direitos previdenciários, sem os quais a barbárie estará convenientemente instalada.

Como disse, somos responsáveis por esse estado de coisas pela ignorância, pela absoluta comodidade em não questionar, nem sequer apurar de maneira crítica a crescente diluição do Estado democrático de direito. Não fazemos a menor ideia do perigo que representam os novos donos do poder e esse drama parece também diluir-se em meio aos nossos afazeres diários, dolorosos e inconsequentes por não apresentar, no futuro, qualquer possibilidade de redenção. Deixamos paulatinamente a angústia que o conhecimento proporciona, para nos abandonarmos às delícias oferecidas pelo consumo de bens tecnológicos. Somos pautados pelo desejo de possuir um IPod Touch 6[i], materialidade sedutora, e pelas janelas de entretenimento que ele proporciona, sejam os games sofisticados, os vídeos encantados, os entretenimentos esportivos.

Podemos também montar nossas páginas no Instagram ou no Facebook, compartilhar as fotos de nossos entornos familiares e as imagens de nossas férias. Podemos, por fim, e não que seja o limite das possibilidades, criar e replicar memes e com uma mensagem despudoradamente racista e transmitir acreditando que seja uma mensagem edificante, calcada nos verdadeiros princípios da tradição cristã. Sem qualquer preocupação, somos transformados em instrumentos da diluição social, em sintonia com uma nova ordem obscura, que nos faz penetrar fundo na escuridão de uma caverna fria e desconhecida. 

À medida que adentramos a caverna nos distanciamos de nosso mundo real, submetidos à percepção de um mundo feito de ilusões. Tudo está por se refazer, com base em uma verdade reconstruída diariamente, em função das necessidades individuais de cada um. Quem nos alimenta com verdades é esse Grande Irmão ideológico que já conhecíamos desde Orwell, hoje multiplicado pelo fascínio irresistível das tecnologias de informação.   




[i] Há sempre o risco de ficarmos defasados.



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