O caminho para casa, Ladenburg, 2010
Há uma coisa que sempre me incomodou e que nunca soube definir
com precisão. Vamos lá, uma nova tentativa, essa espécie de imposição em viver
em círculos humanos restritos. Não consigo, me é penoso, seja o grupo de amigos
da rua, a militância regular exigida pelo partido político, a confraternização
gastronômica dos colegas de trabalho ou o núcleo de pesquisadores do centro de
pesquisa. Do mais mundano ao mais sagrado, do mais despojado ao mais
científico, sempre procurei evitar o vínculo de sangue.
O problema, a meu ver, são as demandas que não cessam, a
hierarquização dos favorecimentos e os objetivos rígidos, assentados em
pequenos rituais de consagração voltado ao círculo dos participantes. A bem
dizer, a ordenação constituída revela o poder nas relações, a domesticação da
ordem, nas palavras de Elias Canetti, "A criatura que se encontra
numa situação de submissão acostuma-se a receber seu alimento de uma só mão.
Tanto o escravo quanto o cão recebem seu alimento tão somente das mãos de seu
senhor; ninguém mais tem a obrigação de lhes dar qualquer outro alimento".
Se compreendermos a alegoria do senhor e do alimento chegamos ao que desejo
expor, a hierarquização e o controle que um círculo fechado submete seus participantes.
Sempre constatei a facilidade em entrar nesse tipo de grupamento fechado e a dificuldade em sair. A reverência quase mística quando se é aceito no grupo e a futrica de reputação quando se abandona os ritos impostos pela convenção. Os muros visíveis ou imaginários consolidam o garrote moral, que funciona de acordo com as conveniências do grupo. Ninguém escapa e o participante tem duas opções, fenecer praticando a moral do grupo ou renascer ao sabor das novas experiências.
Por que essa discussão? Porque penso que, a esta altura da vida,
me sentirei bem em outras formas de liberdade comprometida, ou antes, desejoso
para escolher colocar-me em ação, seja próximo das pessoas queridas, ao lado da
pessoa amada, tomado pelos temas instigantes que atravessam de maneira
incessante o caminho da reflexão e das pesquisas, convicto de poder contribuir
com coisas interessantes e de não reproduzir situações de submissão e
dependência.
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