Dia al Azzawi, Red Sky with birds, 1981
Cada
vez menos possibilidades de arguir sobre o presente que vivemos, sucessão de
descalabros morais e imbecilidades proferidas das pessoas que deveriam guardar
a sensatez, o equilíbrio das palavras. Como se não bastasse o aluvião de
besteiras, a vida no que denominamos Brasil segue por inércia, as instituições
comandadas por gente que alimenta absoluto desprezo com a população. Não há
notícia alvissareira, não surge um argumento de esperança, é só demolição, dos
direitos civis, dos direitos trabalhistas, dos direitos à educação.
Por
isso talvez, o relativo silêncio deste blog neste mês, que até aqui teve apenas
uma postagem, pequena, distante da análise crítica da realidade. Cansaço?
Desesperança? Penso que apenas a falta de proposições construtivas diante da
escalada do imponderável. Agora essa besteira em oferecer ajuda humanitária à
Venezuela, cavalo de troia da invasão comandada pelo Departamento de Estado e
pela CIA. Ainda uma vez episódios de ataques virulentos ao direito de
autogestão dos nossos povos. As cicatrizes das intervenções se acumulam em
nossa experiência cultural e política, e pior do que isso, a desfaçatez com que
cometem os atos de ingerência.
A
Venezuela resiste, não sei por quanto tempo mais. Cercada, bloqueada,
vilipendiada diariamente nas mídias hegemônicas, serão poucas as oportunidades
em manter a dignidade e a autonomia. O império estadunidense ruge e impõe seu
terror, sob a administração Trump, revelando os tempos de um modelo de
capitalismo sem qualquer escrúpulo moral ou ético. É a vitória da subserviência
do individualismo. E por aqui, submisso aos desígnios dos mercados, a
impotência em acompanhar um desgoverno comandado por esse capitão de reserva,
que não oferece a menor perspectiva de uma governabilidade construtiva.
Assenta-se de maneira progressiva o direito à passividade, que propõe de modo generalizado apenas uma coisa, a aceitação dos dispositivos de disciplina da racionalidade neoliberal, nada mais que um sistema normativo como orientação disciplinada dos desejos individuais. Se este é o segredo do sucesso da ideologia da competição temos do ponto de vista humanista uma população que aprofunda sua alienação em face das sucessivas perdas dos direitos inalienáveis de cidadania. O caráter se forja não na virtude ético- moral da relação com o outro, mas na prática individualista do oportunismo competitivo.
A
consciência crítica é varrida de modo sistemático da vida cotidiana, de modo a
não mais nos surpreendermos pela miserabilidade a que somos submetidos. Não
encontro forças, ou melhor até, disposição para retomar o espírito da
resistência que não seja a da literatura. Refugio-me aí para concatenar novas ideias, propor caminhos possíveis
de luta, e não creio estar só nesse impasse político. Trata-se antes
de uma espera, mais do que uma desistência. E no silêncio momentâneo, lamber as
feridas, rechaçar o bizarro e preparar os esboços das análises necessárias.
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