26 janeiro 2019

Fatos dolorosamente consumados

Não dá para imaginar estes semblantes desesperançados!

O diacho é que já foi, a escolha popular foi feita, pessimamente feita, diga-se, mas segundo as regras que ainda sustentam os restos de democracia, não há o que se fazer nos próximos quatro anos. Muito já foi dito aqui neste blog, do meu ponto de vista, sobre o tema, e sempre que possível, convocando outras impressões para fortalecer o argumento, por isso não quero me estender sobre a miserabilidade social da escolha, bem como suas possíveis razões. O esforço para renovar o que estava aí representou um movimento cego, sem fundamentação política, que como a ruptura das comportas de Brumadinho, avança num irresistível mar de lama e destruição. O governo Bolsonaro, esse capitão moralmente falido, representa flagelo e desesperança, a princípio para quem de oposição e aos poucos expandindo para seus correligionários e simpatizantes. 

Nesse segmento, soma-se um amplo arco de interesses que abrange os desavisados descamisados de um lado aos comissionados por interesses corporativos, um imenso saco de gatos, onde já se percebe a frustração dos menos privilegiados. Tarde demais para qualquer lamento. A máquina desacorçoada que imprime impulso a essa desconjunção governamental não se deterá até 2022 e será um grande sacrifício chegarmos até lá. Com as recentes denúncias que vinculam a família do capitão presidente ao que há de mais pútrido do poder paralelo do Rio de Janeiro, as milícias assassinas - e aqui por alguma razão me recordo das famigeradas tropas assassinas de Oskar Dirlewanger na insurreição de Varsóvia - e mais o desmazelo com que se guarda o bem-público do país, falo do meio-ambiente, da educação, da saúde, da previdência, nós, representantes da esquerda democrática sofreremos horrores.

Do ponto de vista geopolítico, este desgoverno passa a integrar de maneira submissa à nova ordem gritada pelo governo Trump, incorporando os parcos direitos de autonomia previstos para nossa América Latina. Com o mundo capitalista em desagregação moral e econômica, prevalecem as vias brutas impostas pelas economias mais fortes, e no nosso caso, retornamos à dependência mais desprezível definida pelo Departamento de Estado, pela CIA, pelos think tanks conservadores, sem apelação. Retomamos nossa patética função de colaborar marginalmente com as decisões estratégicas tomadas em Washington, retomando o vergonhoso alinhamento militar que engrossou uma força interamericana de ocupação da República Dominicana, em 1965.

Estamos desagregados, em pensamento e ação, ao contrário das forças conservadoras que controlam o poder e se articulam sem fissuras ou retrocessos. Por esta razão creio que o embate no campo ideológico - goste-se ou não dessa expressão - será complexo, prolongado e com poucos resultados consistentes. Amargaremos sucessivas derrotas, dentre elas as mais bizarras, como por exemplo as decisões de uma ministra como essa Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), sem qualquer qualificação para o cargo que ocupa. Amargaremos recuos como a desistência do mandato anunciada por Jean Wyllys, em razão da persistente difamação pelas fake news que tem recebido por seu protagonismo junto à causa LGBTQI+. O caminho será pedregoso, espinhento, agressivo, mas não podemos nos furtar a embrenhar fundo, em busca de vestígios que nos orientem a caminhada para a retomada da civilidade.


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