31 agosto 2016

A escalada da insensatez



Repugnante acompanhar nestes dias a silenciosa recomposição de uma nação colonizada, à mercê dos capitães do mato que trabalham pelos seus medíocres interesses e pelos do grande capital.

De uma tacada vamos perdendo a representação do voto, as conquistas sociais e trabalhistas duramente implementadas, a posse de nossas riquezas, a fé nas instituições.

Avançamos para o nosso fracasso como nação livre e autônoma, incapazes de consagrar o Estado Democrático de direito ao alcance de todos.


17 agosto 2016

A ação neoliberal




Um amplo e pedagógico ensaio sobre o neoliberalismo, mostrando como ele se robustece ao ser incorporado em suas práticas econômicas e ideológicas pelo Estado. Destaco abaixo alguns trechos desta obra que chega em boa hora, recém-lançada pela Boitempo aqui no Brasil. 

"A ação coletiva se tornou mais difícil, porque os indivíduos são submetidos a um regime de concorrência em todos os níveis. As formas de gestão na empresa, o desemprego e a precariedade, a dúvida e a avaliação, são poderosas alavancas de concorrência interindividual e definem novos modos de subjetivação. A polarização entre os que desistem e os que são bem-sucedidos mina a solidariedade e a cidadania. Abstenção eleitoral, dessindicalização, racismo, tudo parece conduzir à destruição das condições do coletivo e, por consequência, ao enfraquecimento da capacidade de agir contra o neoliberalismo". (prefácio)

"A historiografia descreve como os think tanks dos evangelistas do mercado permitiram lançar o assalto aos grandes partidos de direita, apoiando-se numa imprensa dependente dos meios empresariais, e como, pouco a pouco, as 'idéias modernas' do mercado e da globalização fizeram refluir e definhar os sistemas ideológicos contrários, a começar pela social-democracia". (p.205/206)

"O Estado não se retira, mas curva-se às novas condições que contribuiu para instaurar. A construção política das finanças globais é a melhor demonstração disso. É com os recursos do Estado, e com uma retórica em geral muito tradicional (o interesse nacional, a segurança do país, o bem do povo etc) que os governos, em nome de uma concorrência que eles mesmos desejaram e de uma finança global que eles mesmos construíram, conduzem políticas vantajosas para as empresas e desvantajosas para os assalariados de seus países". (p.282)

Vale muito a pena a leitura para acumularmos alguma espécie de resistência política em franco declínio, e de se compreender, de modo claro e direto, como o neoliberalismo remodela nossa existência ao instituir uma racionalidade voltada para a "generalização da concorrência como norma de conduta e da empresa como modelo de subjetivação". Na prática, uma interessante interpretação do brutal jogo político que, ao longo dos últimos meses na Argentina e aqui no Brasil, golpeia o estado de direito, elimina conquistas trabalhistas, desmobiliza as ações sociais. 


A NOVA RAZÃO DO MUNDO, por Pierre Dardot e Christian Laval, ed. Boitempo, 2016.



01 agosto 2016

Largo da Batata: Fora Temer!



Em novo ato promovido por movimentos sociais contra o governo golpista de Michel Temer, milhares de pessoas se concentraram no largo da Batata, em Pinheiros, na tarde do último domingo de julho, sob um belíssimo dia de sol e céu azul. Na caminhada até a praça Panamericana, uma multidão de mais de 60 mil pessoas ofereceram o brutal contraste com as pífias centenas que atenderam o chamado das entidades de direita para acorrer à avenida Paulista e defender o golpe, ou talvez como prefiram, o 'fora Dilma'.

Nunca é demais acrescentar o prazer em participar desses eventos, em comunhão com a população mobilizada em defesa dos direitos sociais, pela democracia. É certo que na atual conjuntura, parece muito difícil reverter o cenário político de golpe constitucional. O grande capital financeiro, fortemente amparado pelas corporações midiáticas e avalizado pelo poder judiciário, investiu pesadamente para que a engrenagem gire conforme seus desejos. 

Assim, a sangria desatada da economia torna-se um preço pequeno e necessário para saciar a ambição de sempre das classes dominantes. A luta nas ruas representa uma forma de resistência indispensável para condenar esse moderno procedimento golpista, que dispensa mediadores políticos para ser manejado diretamente pelos donos do capital, e denunciá-lo ao mundo. Não há maneira mais ativa e contundente de enfrentar a impotência momentânea, registrando para hoje e para a história a miséria dos ideais dessa gente obscura.

Abaixo, alguns instantes da grande mobilização de ontem.