16 fevereiro 2015

Jean-Luc Godard


"Godard. Levei 36 anos para me deter um pouco mais na obra deste diretor franco-suiço. Tinha, confesso, uma aversão gratuita por ele, achava que preservava um ranço intelectual em seus filmes, mas, eis-me aqui, descobrindo obras interessantes. Hoje vi Numero Deux, de 1976, cheio de experimentalismos estéticos e narrativos. Em Duas ou três coisas que sei dela, de 1968, ele ataca a bestialidade norte-americana no Vietnã, ironizando o way of life alienante. É corajoso. Em Número Dois, já sem o Vietnã, golpeia a passividade feminina, a moral machista, parâmetros da vida familiar burguesa ocidental, e com toda a originalidade. Embora com momentos panfletários, sua linguagem me incomoda e é isso o que procuro neste momento. Sua sintaxe inovadora quebra a monotonia, propondo um rompimento que nos alcança em nossa ordem moral. Estimulante poder ficar à deriva em suas palavras e imagens aparentemente desconexas e soltas. Tudo se encaixa de alguma forma, lá no final, deixando-nos prontos para alguma mobilização".

(in Diários, Montreal, maio de 1995)



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