"Godard.
Levei 36 anos para me deter um pouco mais na obra deste diretor franco-suiço.
Tinha, confesso, uma aversão gratuita por ele, achava que preservava um ranço intelectual em seus filmes, mas, eis-me aqui, descobrindo obras interessantes. Hoje vi Numero Deux, de 1976, cheio de
experimentalismos estéticos e narrativos. Em Duas ou três coisas que sei dela, de 1968, ele ataca a bestialidade
norte-americana no Vietnã, ironizando o way
of life alienante. É corajoso. Em Número Dois , já sem o Vietnã, golpeia a passividade
feminina, a moral machista, parâmetros da vida familiar burguesa ocidental, e
com toda a originalidade. Embora com momentos panfletários, sua linguagem me
incomoda e é isso o que procuro neste momento. Sua sintaxe inovadora quebra a
monotonia, propondo um rompimento que nos alcança em nossa ordem moral.
Estimulante poder ficar à deriva em suas palavras e imagens aparentemente
desconexas e soltas. Tudo se encaixa de alguma forma, lá no final, deixando-nos
prontos para alguma mobilização".
(in Diários, Montreal, maio de 1995)
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