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Paul Bowles (1910-1999) |
Ao que me recordo, acabei conhecendo o Marrocos antes de conhecer o filme de Bertolucci, O Céu que
nos Protege, que por sua vez, acabaria me conduzindo ao escritor Paul Bowles. Uma sucessão de magníficos achados, pois minha proposta de viagem de algum modo coincidia com o espírito da aventura dos protagonistas do romance de Bowles. Lançava-me ao desconhecido, não como turista, mas como viajante, como um geógrafo prestes a se formar, desejoso por contatar culturas diversas. O projeto era ambicioso, previa juntamente com um amigo percorrer o Marrocos, Argélia e Tunísia, mas para meu desconsolo não passei de Oujda, no extremo leste marroquino, dali, então, seguindo para a Espanha.
Ao me deparar posteriormente com a beleza da fotografia do filme de Bertolucci, recuperei mentalmente as cenas urbanas vividas em Tânger e a luminosidade terracota de Marrakech, a meio caminho entre o oceano e Ouarzazate, às portas do deserto. A entrega da personagem vivida por Debra Winger foi naturalmente mais intensa que a minha, fazendo com que eu me ligasse às suas experiências profundas, com todas aquelas forças enigmáticas do Saara.
Minha admiração por esse espaço geográfico e por sua população se multiplicou, entrou em ação o imaginário alimentado pelas sequências fílmicas e mais tarde, pelos escritos de Paul Bowles. Perguntava-me como um escritor estadunidense podia 'escapar' para um universo imerso em pura sensibilidade e oferecer um texto tão denso e sem visões preconcebidas. Na aproximação de seus escritos, descobri um autor que conseguia expressar técnica e beleza, produzindo relatos de rara acuidade a partir de suas vivências culturais.
Tudo isso para revelar a razão deste blog chamar-se Chá nas Montanhas. Há exatos cinco anos, no desejo de retomar os relatos nas redes sociais, comecei este trabalho que perdura até hoje, e não tive dúvidas em nomeá-lo com o título de um dos livros de Paul Bowles que mais aprecio. Dentre um elenco de belíssimas narrativas, ali se encontra o conto que originou o romance O Céu que nos Protege, o desconcertante A Distant Episode (Um Episódio Distante).
Sinto-me feliz em ter alcançado este tempo de atividade contínua em rede. Não foi fácil, mas confesso que tem sido um desafio interessante, que se renova a cada dia. O blog me alimentou nos momentos de pouca inspiração, estimulando-me a pensar e produzir novos temas, a conhecer e transcrever os mais diversos autores. Já são quase 400 postagens, com mais de 8.500 visitas nestes cinco anos.
Que o trabalho perdure, e que possa contar sempre com a presença de todos vocês, caros leitores.