10 abril 2012

Modos de resistir (2)


Logo após a renúncia de Jânio, na sexta-feira, 25 de agosto de 1961, os militares mobilizam-se para impedir a posse do vice, João Goulart, que se encontrava em viagem diplomática na China. Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, organiza a resistência ao golpe, exigindo nada mais que o cumprimento da Constituição. O impasse durará treze dias, mas é certo que nos três primeiros, enquanto os dois lados vão consolidando apoios e estratégias, a expectativa é de um confronto militar. 
Na manhã da segunda-feira, 28 de agosto, com os transmissores requisitados da rádio Guaíba, Brizola transmite diretamente dos porões do Palácio Piratini, pela Rádio da Legalidade. Por volta das 11h30, estava marcada a audiência solicitada pelo comandante do III exército, Machado Lopes, e não se sabia com que intenções viria. 

"(...) Pode ser que esse encontro não signifique uma simples visita de amigo, que não seja uma aliança entre o poder militar e o poder civil: pode significar uma comunicação da deposição do governo do Estado. (...) Se ocorrer a eventualidade de um ultimato, ocorrerão também consequências muito sérias, porque não nos submetemos a nenhum golpe, a nenhuma resolução arbitrária. Que nos esmaguem! Que nos destruam! Que nos chacinem neste Palácio! Chacinado estará o Brasil com a imposição de uma ditadura! Esta rádio será silenciada; porém, não será silenciada sem balas. Tanto aqui como nos transmissores, estamos guardados por fortes contingentes da Brigada Militar. (...) Não nos encontramos entre uma submissão à União Soviética ou aos Estados Unidos. Tenho uma posição inequívoca sobre isto. Mas tenho aquilo que falta a muitos anticomunistas exaltados deste país, que é a coragem de dizer que os Estados Unidos da América, protegendo seus monopólios e trustes, vão espoliando e explorando esta nação sofrida e miserabilizada. Penso com independência. Não penso ao lado dos russos ou dos americanos. Penso pelo Brasil e pela República. Um Brasil forte e independente. Não um Brasil escravo dos militaristas e dos trustes e monopólios norte-americanos. Nada temos com os russos. Mas nada temos também com os americanos, que espoliam e mantêm nossa pátria na pobreza, no analfabetismo e na miséria. (...) Povo de Porto Alegre, meus amigos do Rio Grande do Sul. Não desejo sacrificar ninguém, mas venham para a frente deste Palácio, em demonstração de protesto contra essa loucura e esse desatino. Venham, e se eles quiserem cometer essa chacina, retirem-se. Mas eu não me retirarei e aqui ficarei até o fim. Poderei ser esmagado. Poderei ser destruído. Eu, a minha esposa e muitos amigos civis e militares do Rio Grande do Sul. Não importa! Ficará o nosso protesto, lavando a honra desta nação. Aqui resistiremos até o fim. A morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória."

(Trechos do pronunciamento de Brizola, extraídos do livro 1961: O Golpe Derrotado, de Flavio Tavares, Ed. LP&M, 2012)



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