22 janeiro 2012

Comunidade do Pinheirinho


Há exato um ano, como parte das avaliações para o concurso de docente em sociologia, em uma universidade federal, propus um projeto de pesquisa denominado Polos Culturais, que pretendia, dentre outros objetivos, a prática cultural como estímulo à vivência comunitária, nos territórios da precariedade. Curiosamente, uma das comunidades precárias que tinha em mente era o Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos. Para ficar mais claro o que pretendia, transcrevo abaixo parte da justificativa do projeto.

           "Consideremos duas comunidades carentes de São José dos Campos, Pinheirinho, assentamento com cerca de 2000 famílias, ou o Campo dos Alemães. Certamente uma população destituída de lazer e entretenimento, com mínima infraestrutura para uma vida social mais digna. Abandonada pelo poder público, absorve a apatia do esquecimento, revolvendo-se nas garras de opções de vida menos promissoras. Corrompida pela alienação dos meios hegemônicos de comunicação, amaciada em seus anseios mais vitais, as pessoas sobrevivem o dia-a-dia.
         A proposta da implantação do polo cultural tem a aspiração de apoiar o desenvolvimento de práticas culturais que tragam a vida comunitária novamente ao proscênio das preocupações, de despertar para a interação comunitária da maneira mais agradável, atraindo um público em que jovens e idosos possam comungar de uma mesma atividade. A poesia tem o poder de atrair, não de afastar as pessoas, de confraternizar, não de causar intriga, e isso pude acompanhar nos saraus das periferias paulistanas  
            Tanto a Cooperifa como o Binho surgiram em um bar, o espaço público por excelência (além dos templos religiosos) das periferias paulistanas. A escolha do polo cultural no Pinheirinho ou no Campo dos Alemães poderia recair em uma escola pública. Para que a iniciativa dê frutos, é necessário convocar os artistas da quebrada, dar-lhes a visibilidade e a responsabilidade de uma ação social.
            A poesia declamada, assim como o rap, são boas sugestões iniciais, porque demandam apenas o rascunho de um poema e o desejo de proclamá-lo. Os versos não precisam ser inicialmente autorais, há que se considerar a dificuldade inicial em produzi-los. Em uma escola pública é possível fazer crescer a biblioteca já instalada, e provavelmente raquítica porque deixada de lado, ou subaproveitada. A poesia declamada pode encontrar nela o templo natural para a prática de atividades culturais, grupos musicais, de teatro, de dança, encontros gastronômicos, festas tradicionais, todas essas práticas de cidadania podem vir no vácuo dos saraus, ou despontar de modo independente... 
          A escola pública pode, assim, ser valorizada em sua essência, contando com a mão de obra especial que dispõe, seu corpo docente.  É importante praticar esse espaço, tê-lo disponível, torná-lo sagrado, capaz de atrair pessoas, e despertar nelas o desejo de conviverem comunitariamente" (...)
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É com tristeza que leio os acontecimentos dos últimos dias, que culminaram com os atos de violência perpetrados pela ação policial, dois mil homens, caveirão, armamento pesado. Segundo o sítio de notícias Vi o Mundo, a reintegração de posse foi feita sem uma solução negociada. De acordo com o texto, "quem chega ao Pinheirinho está sendo recebido com bombas, que estão sobrando até para a imprensa e parlamentares". 

Triste desfecho. Minha frustração é a de não ter oferecido um mínimo do meu esforço para que o Pinheirinho pudesse incorporar ao menos um pouco de poesia em seu cotidiano.


2 comentários:

luma rosa disse...

Lógico que não foi em vão! A comunidade está em deslocamento e tudo que lhes ensinou está sendo carregado dentro de si. Boa sorte!

Marco Antônio Bin disse...

A questão é que o projeto não foi aprovado, Luma, e o polo cultural não foi implantado. Por esta razão é que demonstro minha frustração. Boa sorte!