A leveza dos mestres |
Não existem atalhos para o sucesso, ou mesmo para se estabelecer na competência. Já faz tempo que afastei de mim o cálice das facilidades imediatas que prometem mundos e fundos, no curso dessa contemporaneidade bestificada, falsamente glamourosa, que se pauta no liberalismo tresloucado de mercado. São tentadores os fariseus que prometem mundos e fundos em apenas sete passos. A foto acima é bem sugestiva, os mestres que aprenderam com outros mestres, em uma lenta lapidação de suas vivências como seres lançados no mundo. Lembro-me de uma entrevista de Vargas Llosa com Julio Cortázar, nos anos 1960, quando lhe pergunta o que faria se um jovem de 15 anos quisesse aconselhar-se para se tornar um escritor, Ao modo dos mestres Zen, quebraria uma cadeira em sua cabeça, respondeu Cortázar, e completou, Se apesar de tudo minha resposta não fosse clara, eu lhe diria que só o fato de buscar conselhos alheios sobre a produção literária, confirmaria sua falta de verdadeira vocação.
Há duas coisas importantes, a meu ver, nessa resposta simples e contundente do grande Cortázar: como disse no começo, não existem atalhos para a satisfação egoísta de um desejo; e que a vocação não é algo que se mede (ou se acrescenta) com conselhos, ainda que da melhor qualidade. No lugar da ansiedade egóica, a humildade do trabalho perene, o esforço de aprendizagem sem data de validade, com os mestres que nos inspiram. E isso não significa um curso pago de capacitação, mas a capacidade natural de agregar conhecimento à vocação. Claro, há que se ter uma vocação, do contrário, não há como desenvolver a virtude inata. Me chama a atenção a profusão de pretensos cursos para fazer de um bom redator um escritor bem-sucedido, tomando-se como base a criação narrativa de escritores consagrados e... exercícios, com trocas coletivas de escritura. Não espere que o milagre venha dos céus, pois não vem.
Em um de seus cursos de cinema proferidos no Colégio São Luiz, em certo momento Luiz Sérgio Person comentou, provavelmente no limite de sua paciência, que naquela sala não tinha ninguém que se daria bem como diretor, a não ser aquele barbudo ali do canto. Referia-se ao jovem Carlos Reichenbach. E é fato, nada mais se soube dos outros trinta ou quarenta estudantes, se é que estavam ali para almejar alguma coisa com cinema, além de conhecimento. Porque as coisas são assim mesmo, não brotam mestres ao acaso, após uma roçada feita com esmero, ou após se cumprir os malditos sete passos da sabedoria. Em um mundo voraz, impaciente e cada vez mais ganancioso, convém mais do que nunca lapidar a vocação com paciência, e que a inspiração seja a matéria resultante de leitura dos mestres, uma leitura desinteressada e contínua. Que a caravana passe, os cães continuarão ladrando. A beleza toda está nesses pequenos movimentos de prazer.
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