Creio que a parcela mais crítica e atenta dos cidadãos do mundo já desconfiam aonde este novo enfrentamento entre palestinos e israelenses vai levar: a lugar nenhum, ou, a nenhum aprendizado. O mundo com suas lideranças bochornosas de hoje, riscou da agenda a palavra negociação. O que deve prevalecer é a palavra ameaçadora e o ato belicoso, vindo por trás um orçamento bilionário de contratos com armamentos. É o que acontece na Ucrânia, onde a UE prefere torrar mais de 130 bilhões de euros ao longo de um ano e meio, em armas enviadas ao Zelenski, com resultados bastante incertos, do que procurar uma negociação direta com a Rússia e cessar com a sangria desatada. Para que o descalabro não seja tão assustador ao pobre cidadão comum, é necessária uma contínua cobertura acrítica das mídias sobre o que se passa por lá.
No caso do Oriente Médio, o ataque do Hamas suscitou uma enérgica reação conjunta desses mesmos governos entorpecidos contra o ataque terrorista, desta feita executado em minúcias e em grande escala. Quando as mortes ocorrem aos borbotões pela ação policial lá no morro, trata-se da consequência de uma ação cirúrgica e necessária para conter a criminalidade. Para o bem dos bairros classe-média do entorno. Ninguém quer saber quantos morreram ou o nível da violência policial para aquietar as almas criminosas. Mas quando há uma ação oposta, uma invasão "do morro ao asfalto", o pânico exige que o Estado Policial reaja à altura, acabando com a violência dos marginais. É mais ou menos o que ocorre em Gaza.
Enquanto os ataques cirúrgicos de Israel têm a função de eliminar bases terroristas, sem a contagem precisa de vítimas, isso pouco importa e conta com a absoluta complacência da comunidade internacional. Mas quando surge um ataque maciço palestino, que deveria provocar ao menos um questionamento incômodo, o mundo, esse mundo de lideranças frívolas, reage em uníssono, como se o que ocorre naquela parte do planeta fosse uma novidade. Não é. A violência conta-gotas da ocupação israelense é uma narrativa censurada.
O que vai ocorrer é que o ataque do Hamas será contido e a montanha de cadáveres resultante será varrida para baixo do tapete, com a conta apresentada unicamente para o grupo político palestino. Não haverá aprendizado, nem negociação. Não convém, afinal, para quê mexer nesse vespeiro e trabalhar diplomaticamente pelo estabelecimento de dois Estados soberanos e livres? O problema da solução armada é uma opção que a cada confronto foge ao controle. Os falcões do Pentágono, ou da Otan, ou vamos lá, da ONU, têm dificuldades em aceitar que novos jogadores, com muito cacife diplomático, sentem-se à mesa e mostrem como aprenderam a jogar o jogo da guerra. Esses insignes falcões desaprenderam a arte do blefe, e mesmo assim querem impor que a banca vença o jogo, com a truculência do passado, mas produzindo a ignorância do futuro.
A ladainha é repetida, não negociamos com terroristas, como se uma fração de terrorismo também não estivesse entranhada em suas ações. Sentimentos se misturam, hipocrisia, arrogância, prepotência, desprezo... O inimigo pagará um preço como nunca conheceu antes... Nesse quadro, o Hamas é o menor dos problemas. A imposição de subserviência se estabelece; pronto, não haverá negociação, não existe espaço para o diálogo, para as narrativas com versões da mesma história, e o mundo morboso deverá se orgulhar da força da Verdade e replicar em suas redes digitais a vitória, ou o impasse provocado pelos "terroristas". Lamentáveis serão os desfechos. Não fazem ideia do que semeiam, mas parece que não se preocupam com isso, nem com a fome, com a destruição, com o aquecimento global, com nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário