Serenata, Candido Portinari, 1925 |
Recebo a informação da minha editora, Caminhos Literários, que Um longo dia na vida de Ângelo Domani ficará pronto entre 20 e 25 de fevereiro, na semana que vem. Trata-se de uma emoção que se exprime de modo especial, um misto de alegria desvairada e apreensão profunda. Foram vinte e cinco anos para vir a lume, o que revela praticamente o tempo maduro de minha vida como escritor. Logo que concluí A Paixão Inútil (1997), comecei a redigir o romance, que em seu primeiro esboço não passava de um conto longo, com o nome de Jornada em Cambeville. Pouco daquela primeira versão se manteve, as estruturas modificadas do começo e do fim, e o plano geral da caminhada de Ângelo pela cidadezinha. Mas a narrativa sofreu fortes modificações. Não é fácil lidar com isso e imaginar que logo muitas pessoas estarão em contato com o texto.
Serei franco em dizer que nunca imaginei que ele seria publicado como o será, selecionado por uma editora, editado com carinho, plenamente reconhecido por suas hipotéticas qualidades. Há muita dor e frustração acumulada ao longo do percurso, como se eu também tivesse contribuido para o retardamento de sua vinda a lume. De tempos em tempos, resolvia escrever o que faltava e reescrever o que já existia, e aconteceu o que jamais se esperava que acontecesse, uma editora desejar publicá-lo. Ao mesmo tempo, sobrevém a incerteza do que fazer, como proceder em relação à história pronta, longamente redigida, como se tivesse de proteger um filho recém-nascido e com ele, enfrentar as ganâncias do mundo. Nunca me senti tão feliz e estranhamente desconfortável diante do que está por vir.