08 janeiro 2021

Trump e seus acólitos

 

Seria curioso ver a Grande Nação comandada por esses espectros


A cena chega a ser patética: uma profusão de seres travestidos com as mais esquisitas indumentárias diante do Capitólio, em Washington, em meio à confirmação da vitória de John Biden pelo Congresso. Estava reunida a parcela mais radical dos apoiadores de Trump, que como uma avalancha, decide invadir o recinto, ocupando-o com violência. O saldo final, quatro mortes, dezenas de feridos e um ato grosseiro e mal calculado contra as instituições políticas estadunidenses. Tente imaginar o que significa uma turba intolerante ocupar na marra um espaço público, portando bandeiras confederadas, camisas de apoio a Auschwitz, ou como o cidadão na foto acima, como um fury de búfalo. 

O que esperar dessa carga emotiva e irascível? Massa desgovernada - uma redundância ao próprio conceito de massa, desenvolvido por Canetti em seu excelente Massa e Poder - incapaz de ser portadora de qualquer proposta a não ser rechaçar (eu diria tripudiar) o resultado das eleições presidenciais e cumprir um pretenso chamado épico, America First, impulsionado pelo presidente prestes a deixar o cargo. Se Trump ainda possuía dividendos políticos mesmo na derrota, com o episódio tresloucado desse dia 6 de janeiro, tornou-se um líder isolado pelo mundo, descartado pelo seu partido, pelo próprio vice-presidente, Mike Pence, que se recusou a cumprir seu papel em questionar, na sessão do Congresso, a derrota de seu chefe. 

Espero que o significado simbólico desse acontecimento seja a pá de cal sobre um modo inconsequente de fazer política, amparado na banalidade de um populismo de direita que acreditava-se sepultado, e que reacendeu pela via da estratégia digital de Steve Bannon na eleição de Trump, a distorcer o sentido da diplomacia e a exaltar a truculência adormecida nos rincões reacionários. Por aqui, o capitão desgovernado abriga as futilidades desse caminho: emite impressões lamentáveis sobre a imparcialidade das eleições estadunidenses, correndo em socorro do modelo que igualmente o fez candidato e o elegeu. 

E sem controle, faz advertências perigosas em relação às eleições de 2022, insistindo que as urnas eletrônicas estão destinadas a produzir fraude. Como não tem um pingo de senso democrático e tolerância ao outro, é especialista em fazer barulho em torno de si, em forjar ideias para exibi-las como um exercício inconsequente de destruição. Aliás, foi essa a promessa feita há dois anos, em um jantar na mesma Washington, quando ao lado de seu guru Olavo de Carvalho e diante do mesmo Trump, prometeu primeiro destruir para depois construir. Realiza a destruição com esmero, e lembro que hoje alcançamos no país a dolorosa cifra de 200.000 mortes pela Covid-19.

Nada parece mais lúgubre do que a gestão desse capitão sem amor ao próximo, sem percepção da realidade, sem projeto de nação. Triste por viver esse tempo.

(atualizado em 08.01.2021)



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