03 abril 2016

Resposta ao golpismo: mobilização democrática



A primeira metade de março foi sombria, indicando tenebrosos movimentos vindos de Curitiba, comandados pelo juiz de primeira instância, Sérgio Moro. Começou com a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depoimento, com ação simultânea da PF no Instituto Lula. Ficamos boquiabertos com a desfaçatez da ação, que por pouco não o conduziu à prisão. Posteriormente, a passeata da classe média pelas capitais do Brasil, com intensa cobertura midiática. Nunca o Pato gigante e sem graça da Fiesp foi tão ameaçador, mas percebia-se até ali o avanço cataclísmico de um golpe jurídico-legislativo contra o governo de Dilma, e nada parecia suficiente para oferecer alguma resistência. O PMDB, então, oportunista como de costume em sua convenção, indicou a saída da base de apoio governista.

Na segunda metade do mês as coisas começaram a mudar. A esperança surgiu da mobilização popular nas ruas, de fato a única cartada governista. Para as ruas e avenidas foram centrais sindicais, organizações populares, intelectuais, trabalhadores, estudantes, respondendo ao apelo das redes sociais, o grande canal de comunicação disponível. Aqui a Paulista ficou tão cheia quanto na passeata da classe média, encorpada com a presença de Lula, que impossibilitado de assumir a pasta da Casa Civil, continuou movimentando-se e com isso, retomando sua dimensão de negociador. Foi o ato decisivo para as redes se incendiarem e assumirem seu protagonismo comunicacional, bastante discutido na academia e poucas vezes tão efetivo e decisivo.

Foi uma atuação política com milhares de vozes intervindo com cores, imagens, palavras, em imaginosa ação pela democracia, contra o golpe. À anunciada saída do PMDB, com a péssima estratégia de contar com Eduardo Cunha na foto, sobreveio a grande manifestação democrática na Praça da Sé, no Largo da Carioca e em dezenas de locais pelo Brasil, estendendo-se a Pau dos Ferros, no RN. Novamente a presença de milhares de pessoas de todas as origens, cores, gêneros, crenças, partidos, promoveu um tilt na oposição golpista, jogando-a em uma inesperada defesa, procurando sustentar-se no discurso de que o impeachment está previsto na constituição, sem se preocupar em identificar algum crime de responsabilidade da presidenta.

Enfim, respiramos, nós, a parcela da sociedade que luta pela legalidade, pelo respeito à letra constitucional, contra o golpe. Se há vinte dias o horizonte parecia tenebroso, ameaçador, agora se percebe saudáveis frestas, as nuvens pesadas se dissipam, o sol volta a brilhar. O que não significa que as coisas serão fáceis doravante. Ao contrário, a mídia corporativa, agora assumidamente golpista, não se cansa de promover investidas, algumas risíveis de ridículas, outras dolorosas pela discriminação contra a mulher, contra Dilma. Ainda os grupúsculos proto-fascistas se movimentam ameaçando aqui e ali, em pequenos grupos ou em brados ostensivos nas redes sociais, sempre amparados por sua covardia ontológica. O importante será manter a mobilização, integrando diversos segmentos sociais, e com isso interagir nos próximos movimentos no Congresso. 

Superando as adversidades, uma a uma, e subjugando os impulsos doentios daqueles que desejam macular nossas conquistas democráticas, constituiremos uma linda e inesquecível vitória.


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