A primeira metade
de março foi sombria, indicando tenebrosos movimentos vindos de Curitiba, comandados pelo juiz de primeira instância, Sérgio Moro. Começou com a condução coercitiva do
ex-presidente Lula para depoimento, com ação simultânea da PF no Instituto
Lula. Ficamos boquiabertos com a desfaçatez da ação, que por pouco não o
conduziu à prisão. Posteriormente, a passeata da classe média pelas capitais do
Brasil, com intensa cobertura midiática. Nunca o Pato gigante e sem graça da
Fiesp foi tão ameaçador, mas percebia-se até ali o avanço cataclísmico de um
golpe jurídico-legislativo contra o governo de Dilma, e nada parecia suficiente
para oferecer alguma resistência. O PMDB, então, oportunista como de costume em
sua convenção, indicou a saída da base de apoio governista.
Na segunda metade
do mês as coisas começaram a mudar. A esperança surgiu da mobilização popular
nas ruas, de fato a única cartada governista. Para as ruas e avenidas foram
centrais sindicais, organizações populares, intelectuais, trabalhadores, estudantes,
respondendo ao apelo das redes sociais, o grande canal de comunicação
disponível. Aqui a Paulista ficou tão cheia quanto na passeata da classe média,
encorpada com a presença de Lula, que impossibilitado de assumir a pasta da
Casa Civil, continuou movimentando-se e com isso, retomando sua dimensão de
negociador. Foi o ato decisivo para as redes se incendiarem e assumirem seu
protagonismo comunicacional, bastante discutido na academia e poucas vezes tão
efetivo e decisivo.
Foi uma atuação
política com milhares de vozes intervindo com cores, imagens, palavras, em
imaginosa ação pela democracia, contra o golpe. À anunciada saída do PMDB, com
a péssima estratégia de contar com Eduardo Cunha na foto, sobreveio a grande
manifestação democrática na Praça da Sé, no Largo da Carioca e em dezenas de
locais pelo Brasil, estendendo-se a Pau dos Ferros, no RN. Novamente a presença
de milhares de pessoas de todas as origens, cores, gêneros, crenças, partidos,
promoveu um tilt na oposição golpista, jogando-a em uma inesperada defesa,
procurando sustentar-se no discurso de que o impeachment está previsto na
constituição, sem se preocupar em identificar algum crime de responsabilidade
da presidenta.
Enfim, respiramos,
nós, a parcela da sociedade que luta pela legalidade, pelo respeito à letra
constitucional, contra o golpe. Se há vinte dias o horizonte parecia tenebroso,
ameaçador, agora se percebe saudáveis frestas, as nuvens pesadas se dissipam, o
sol volta a brilhar. O que não significa que as coisas serão fáceis doravante.
Ao contrário, a mídia corporativa, agora assumidamente golpista, não se cansa
de promover investidas, algumas risíveis de ridículas, outras dolorosas pela
discriminação contra a mulher, contra Dilma. Ainda os grupúsculos
proto-fascistas se movimentam ameaçando aqui e ali, em pequenos grupos ou em
brados ostensivos nas redes sociais, sempre amparados por sua covardia
ontológica. O importante será manter a mobilização, integrando diversos
segmentos sociais, e com isso interagir nos próximos movimentos no Congresso.
Superando as
adversidades, uma a uma, e subjugando os impulsos doentios daqueles que desejam macular nossas conquistas democráticas, constituiremos uma linda e inesquecível vitória.
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