Duas breves histórias, uma ocorrida em sala de aula, outra
revisitada em vídeo. A
primeira, hoje pela manhã, enquanto a parcela presente da classe fazia as
vistas das provas, um aluno isolado realizava a 2ª. chamada, Honório, jovem
morador da distante periferia sul de São Paulo. Ele não demorou, e ao me
entregar a prova, disse-me que estava feliz por ter identificado no filme Povo Lindo, Povo Inteligente, tema de
uma das questões, o Márcio Batista, um dos poetas e seu professor de educação física
no ensino médio. O mais comovente, porém, foi ao ler o complemento de sua
resposta. Ao comentar a importância da poesia no sarau da Cooperifa e da sua
contribuição para o questionamento do mundo como parte da cidadania, frisou que
isso ficava evidente ao reconhecer, no filme, “a cozinheira da escola pública
onde estudei, expondo suas ideias e sua arte”.
A segunda, agora à noitinha, em um momento de descanso,
sintonizei por acaso um trecho do filme Peões,
de Eduardo Coutinho (que havia assistido na época de seu lançamento), sobre
os trabalhadores ligados ao movimento sindical dos metalúrgicos de São
Bernardo. Dentre tantos depoimentos, impressionáveis pela força inata do
argumento que brota simples e direto, a fala de Zelinha, seu orgulho imenso por
Lula, lembrando que entrou com ele no sindicato, no mesmo mês de março de 1976,
ele como presidente, ela como copeira. “A coisa que mais desejo é ir a Brasília
e servir um café para ele, no Palácio do Planalto”. Por fim, explica como
salvou da polícia, quando da ocupação do sindicato, uma lata contendo um filme.
Pediram para ela guardar e ela não vacilou, tratou de escondê-lo em sua sacola,
sob um par de sapatos, quando saía para sua casa. “Se eles pegassem, acabariam
com a nossa história”, disse mais ou menos assim. Na lata, o filme Linha de Montagem, de Renato Tapajós.
O sentido do amor, por si, pelo outro, pela vida, nestas
mulheres que não se cansam de lutar e sonhar.
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