Por
Mônica Rebecca F. Nunes
Marco Antonio Bin
Ele
a aguardava no banco solitário, uma armação rústica de ramas de cedro, onde a
relva se confundia com as pérgulas amparadas pelas sebes naturais, de onde se
esparramavam cordões de folhas verdes, incrustadas por alamandas amarelas e uma
espécie de bougainvilleas avermelhadas, espargidas pelo orvalho da manhã ainda
fria e nebulosa.
Ao
longo do caminho, o silêncio do vale permitia com que sua espera fosse suave e
generosa, sintonizado com o ambiente que o acolhia. Do outro lado, serpenteava
mansamente o riacho de águas esverdeadas que escorria das montanhas a oeste e
de algum modo definia o percurso pedregoso, que avançava em direção à cidade.
Atravessou
a vereda, escolheu uma pedra e a lançou ao meio das águas, ouvindo o estrugir
do choque concorrer por um instante com o canto dos pássaros. O sol enevoado
custaria um pouco mais a esquentar, o caminho permanecia virgem, apenas
ressoando seus curtos passos. Sentou-se no gramado à margem d´água e ali
permaneceu por uns bons minutos, acariciando as belas lembranças, que se
confundiam com a ternura dos últimos encontros.
O
ritmo da grande cidade conduzira por longos anos suas falas e seus olhares, e
por alguma razão que ele não se recordava ao certo, decidiram caminhar juntos,
a partir daquele ponto que mal conheciam, em comunhão com a natureza e dos
silêncios que eventualmente produzissem, intercalados pelas palavras generosas
de sempre, pelos toques ariscos, pela alegria de estarem disponíveis para seus
sonhos.
Foi
quando ouviu um som que destoava, produzido no atrito com o cascalho, de modo
alternado. Olhou para a estradinha e logo após a última curva, a uns cem
metros, despontou a silhueta querida, um ponto que se destacava aos bocados, coberto
pelo sobretudo vermelho.
Logo
foi possível distinguir o que mais apreciava nela, o sorriso exultante de uma
pequena conquista, emaranhado pelos cabelos castanhos agitados pelo vento. Mais
um pouco, e poderia se deleitar com o brilho vítreo dos dois topázios, que lhe
revelariam os delicados segredos da alma.
Ele
se levantou para recebê-la, para o abraço demorado, que os aqueceu ternamente.
Então ela começou a lhe falar sobre um belo tema, aleatório, que coincidia com
a sutileza do momento, com o caminhar sem pressa, até o pequeno rancho que os
esperava.
O caminho era longo, durava mais a cada passo que davam.
Talvez quisessem isso mesmo: prorrogar o tempo de espera. De algum modo, havia
na espera um acolhimento. Os anos que caminhavam em busca do pequeno rancho já
se acumulavam. A estrada já havia mudado de cor, os lagos já se tornaram mares,
os mares altos ficaram baixos dando vazão à praia imensa e
sombria. O sol esquentou. Continuavam. Juntos, sorridentes, felizes
por estarem um na presença do outro.
Os olhares diziam o que não ousavam dizer porque temiam
o desencanto. Ela e ele. Haviam construído a paisagem, os sons do riacho e o
sobretudo vermelho. Inventaram um e inventaram o outro, e, agora, tão perto do
rancho, arquitetavam modos de não chegar e assim permanecerem juntos,
nesta estranha dança sem rumo.
2 comentários:
Qué bello (y qué ganas de saber bien el portugués para poder disfrutar más cada nota).
Gracias por mantenerte por aquí...
Gracias, Daniela, muy amable!
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